Maureen O’Brien

Maureen O’Brien foi a primeira mudança feita no elenco da série, substituindo Susan (Carole Ann Ford) após dois arcos da segunda temporada. Abaixo temos duas entrevistas com ela, que agora é uma escritora.

Entrevista feita a “Doctor Who Magazine” em Abril de 1987, onde fala sobre como seu tempo na série não foi sempre feliz, principalmente por causa da atenção da imprensa, aqui ela fala sobre trabalhar com William Hartnell e a chegada do Peter Purves.

“Um maravilhoso professor de atuação, que me ensinou no Central, chamado Harry Moore, saiu do cargo e foi trabalhar como produtor na BBC. Recebi um telegrama ele dizendo ‘Chance de trabalho
na TV. Me ligue’. Eu era uma pessoa extremamente inocente, e ainda sou um pouco, e liguei para ele e disse ‘Mas Harry, eu já tenho um trabalho’, e ele disse ‘Querida, não seja boba. Eles
estão procurando por uma garota nova em ‘Doctor Who’. Eu nunca havia visto o programa, mas eu já tinha ouvido falar. Não assistia TV naquela época, não tinha tempo e não pensava na TV como
algo sério – quer dizer, o teatro era o que era sério. Não penso mais assim, de qualquer forma – é o contrário, de fato. Acho que era uma esnobe do teatro na época.”

“De qualquer forma, eu fui me encontrar com a Verity Lambert, então voltei e continuei no Everyman (teatro em Liverpool). Então fui chamada para um teste filmado. Vim para Londres e fiquei
com Harry e sua mulher, e decidir, para o meu teste, fazer um trecho de ‘Member of the Wedding’, no qual Harry já havia me treinado. Fiz essa cena para o teste e eles me ofereceram o
trabalho. Fiquei extremamente feliz trabalhando em Everyman, mas eu conheceria o homem que eu acabaria casando, e ele estava em Londres. Estávamos juntos e eu queria ir para Londres ficar
com ele, então pensei ‘Bem, é melhor eu ficar com o trabalho’. O que eu fiz.

“Para mim era só um trabalho, não parecia importante. Eles diziam ‘É um segredo, não conte a ninguém’, e claro que não contei, mas não entendia realmente a importância daquilo. Então de
repente, haviam jornalistas batendo na porta às sete da manhã e Michael e eu tivemos que sair pela janela dos fundos, porque não tinha porta dos fundos! Foi terrível e eu não sabia no que
eu havia entrado. Não fazia ideia de que era tão enorme e havia um culto tão grande. Foi chocante para mim e eu não consegui lidar com tudo aquilo.”

“Eles não estavam me pegando para ir de táxi para todos os lugares, então eu costumava pegar o metrô como qualquer um. Eu sentava lá e as pessoas falavam sobre mim e me encaravam. Às vezes,
aproximavam-se de mim, mas na maioria dos casos simplesmente falavam de mim, enquanto eu estava lá sentada como se eu estivesse na tela. Foi uma experiência devastadora. Eu odiava a perda
do anonimato – o direito das pessoas comuns de andar pela rua e ser como qualquer um. Noventa por cento do meu prazer nesse mundo é de olhar para as pessoas e observar e gostar do que está
acontecendo. Não podia fazer isso porque tinha que ficar de cabeça baixa, ou seria abordada.

“Doctor Who não era nada recompensador do ponto de vista da atuação. Na primeira semana, me lembro que pensei que não poderia decorar as palavras em cinco dias e não conseguia entender como
todos os outros – Bill Hartnell, Jackie Hill e Russell Enoch conseguiam decorar os scripts no segundo dia. Pensei ‘Como na terra eu poderei decorar isso?’. Claro que na segunda semana,
estava largando meu roteiro no segundo dia também. Você se acostumava tanto a isso – as palavras eram mais ou menos as mesmas, de qualquer forma. De fato, era muito fácil memorizar e era
tão “doce” do ponto de vista de um trabalho. Os roteiros eram tão previsíveis, eu me acostumava a sentar e dizer ‘Isso é tão entediante, porque você não…?’, mas ninguém notava. Parecia
ter 12 anos e costumava levar os roteiros muito a sério. Devem ter pensado que eu era maluca!

“Bill Russell e Jackie eram maravilhosos comigo e tomaram conta de mim. Carole Ann Ford foi muito doce comigo, mas ela já havia saído. Ela veio no meu primeiro dia dar um ‘olá’ e um ‘bem
vinda’. Era muito apegada ao Bill Hartnell também. O resto de nós lhe dava uma sensação de segurança e nós tínhamos que cuidar dele – eu com certeza cuidei. Meu trabalho na verdade, desde
que a atuação não era doce, era rir da raiva e da petulância do Bill, o que eu completamente fazia e gostava! Ele ficava muito irritado, mas era só parte da personalidade dele, como ele
era. Qualquer palavra com mais de duas sílabas eram um problema para ele.

“Lembro-me de que costumávamos ter piqueniques juntos. Fazíamos a série no Riverside Studios e não acho que havia algum lugar para comer lá, então costumávamos revezar em trazer aquelas
maravilhosas cestas. Alguém trazia a salada, alguém trazia as frutas, o frango assado e assim por diante. Então sentávamos todos no camarim do Bill Hartnell e aproveitávamos nossos grandes
piqueniques. Éramos muito próximos como uma equipe. Gostávamos muito do Douglas Camfield – me lembro que ele tinha um carro muito rápido. Chris Barry era legal, Richard Martin era uma
pessoa muito querida. Verity estava sempre por perto, e ela era maravilhosa comigo. Era ótimo. E Dennis Spooner era muito, muito bom. Ficávamos sempre felizes quando ele estava conosco.”

“A melhor coisa eram os outros atores, e tivemos alguns bons, incluindo Hywel Bennett fazendo alguma criatura subaquática, todo pintado em dourado. Eu atualmente recebo muitas cartas
dizendo ‘Eu sei que você odiava Doctor Who’, mas eu não odiava. Eu não gostava do trabalho, mas amava as pessoas, todos bons atores e diretores. Peter Purves se juntou a nós depois – ele ia
fazer esse cara do Texas no telhado de algum lugar, e porque sabíamos que Jackie e Russell estavam indo embora, procurávamos por uma pessoa nova. Bill e eu concordamos que ele seria ótimo e
fomos falar com Verity. E foi assim que Peter entrou.”

“Eu realmente só me lembro de poucas coisas. Lembro do meu primeiro episódio, onde eu tinha que ser extremamente apegada a um monstro, que depois era morto. Lembro de formigas gigantes, o
que foi bem inteligente, mas não lembro nada dos Daleks. Havia uma história onde haviam essas coisinhas chamadas Chumbleys, que eram criaturinhas de metal que pareciam geleia balançando.
Eles eram um doce. E dentro dos Chumbleys, operando eles, haviam anões. Eles eram ótimos, e claro, não tendo passado dos um metro e meio, tinha uma empatia enorme por eles!”

“Acho que no começo eu queria muito sair, logo quando soube o que tinha que fazer. Deixava absolutamente claro que não queria continuar. Fiquei um ano sem trabalhar depois de ‘Doctor Who’,
porque tinha um péssimo agente, que não sabia nada de teatro. A verdade era que eu poderia ter feito qualquer coisa no teatro tendo saído de ‘Doctor Who’, porque eels podem usar o nome e
fazer turnês, mas eu era inocente demais para saber disso. E não poderia trabalhar na TV porque ainda era vista como Vicki de ‘Doctor Who’. Então fui ensinar como professora substituta numa
escola para garotas em Kennington, usando meu diploma do Central.

“Fui salva por Frank Hauser, que cuidava do Oxford Playhouse. Ele estava fazendo ‘Volpone’ com Leo McKern e Leonard Rossiter e nunca havia visto e ouvido falar de ‘Doctor Who’. Ele me
ofereceu um papel como Celia, a mulher de Leonard Rossiter. Então mudamos de lugar e me ofereceram uma temporada no Chichester. Fui para a área que queria, mas eu ainda estava me
estabilizando, e o que eu realmente queria era estar na Corte Real fazendo peças novas de Edward Bond e coisas parecidas. Eu agora estou fazendo o trabalho que sempre quis – peças novas,
escritas por pessoas vivas. Não estou dizendo que pessoas não devam fazer Shakespeare e Chekhov, adoro também, mas o teatro é sobre o que está acontecendo agora. Museus tem seu lugar, você
precisa tê-los e eles são ótimos, mas o teatro não é um museu.”

“Não sei porque eu fiz o Children in Need. Ligaram para mim e eu concordei e pensei ‘O que eu fiz?’. Estava terrivelmente nervosa e quase não fui, mas acabei fazendo e foi ótimo rever but
Peter Purves, e Patrick, com quem eu já trabalhei várias vezes – e claro, Carole Ann Ford. Não vi o programa desde que eu saí e não entendo seu atrativo. Ainda recebo toneladas de cartas e
questionários do tamanho de um braço. Me perguntam coisas que não sei responder.”

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