O futuro de Doctor Who será das mulheres? SIM!

No último domingo, 16 de julho de 2017, a BBC divulgou a intérprete da 13ª Doctor em Doctor Who. Após 54 anos, a atriz Jodie Whittaker (Broadchurch) foi escolhida como a primeira Doutora. A primeira mulher a pilotar a TARDIS como lead, e não como uma companion, como de costume. Os indícios de que a mudança de gênero seria possível vêm, pelo menos, desde a sexta temporada, com a exibição do episódio “The Doctor’s Wife“. Na oitava temporada nos foi apresentada Missy, interpretada por Michelle Gomez, que depois foi revelada como a regeneração seguinte do Master de John Simm. A possível regeneração como mulher, uma das mais pedidas por fãs, foi se mostrando cada vez mais provável.

Ao ser anunciada, Jodie recebeu as boas vindas de diversos internautas, além do elenco e equipe que faz (ou já fez) parte da família de Doctor Who, incluindo Peter Capaldi, Matt Lucas, Colin Baker e Steven Moffat. Atrizes que já interpretaram companions no passado, como Billie Piper, Karen Gillan e Jenna Coleman, já expressaram quererem ver uma mulher interpretando a peça principal da série – mesmo depois de deixarem o elenco.

Nem todos, porém, ficaram empolgados com a mudança. E dessa parcela insatisfeita, a maioria é formada por fãs, principalmente os mais fiéis à série clássica. Argumentos usados eram de que a escolha de Jodie “iria contra tradições e princípios da série” e/ou de que “a qualidade da série deveria cair agora que uma mulher foi escalada para um papel feito para um homem”.

Por parte da mídia, principalmente de dois tabloides britânicos (que preferimos não nomear para proteger e dar privacidade à Jodie de suas informações pessoais divulgadas), houve quem acusou a escolha de “jogada de marketing”, já que a audiência das temporadas passadas não é mais as mesma – principalmente desde que David Tennant saiu do papel, dando espaço ao Doctor de Matt Smith. Para potencializar a crítica, a informação foi divulgada com fotos da atriz nua, que foram retiradas de um trabalho cênico feito por ela no passado. Ou seja, o propósito dessas imagens sempre foi profissional, e não pessoal.

A sexualização da nova Doctor não veio apenas da imprensa como um contra-ataque à escolha, o que nos faz voltar à atitude dos fãs. A troca de gênero da personagem foi vista para alguns como possibilidade de dar um toque mais “apimentado” na relação Doctor-companion. Como se o público preferisse ver uma mulher tendo um caso de amor do que ver uma mulher na missão de ser gentil e ajudar aos que precisam, embarcar em aventuras no espaço-tempo, explorando galáxias e mundos inteiramente novos, além de enfrentar os mais variados tipos de monstros e ser a portadora da voz daqueles que não as têm.

Como se essas funções só pudessem ser exercidas por homens.

Entramos agora em um ponto defendido pela equipe do Universo Who. Os outros 12 atores homens escalados para um Doctor, seja na série clássica ou na nova, não precisaram passar por reprovações do público como não sendo capazes de manter o ritmo agitado da série por seus gêneros. Esses mesmos 12 atores não tiveram fotos íntimas divulgadas na intenção de que sua escolha fosse vista com indecência ou fragilidade pelo público – e, se tivessem sido vazadas, não seria consideradas “indecentes” ou “obscenas”. Fãs não se preocuparam em pensar na queda de qualidade da série, das aventuras e do desempenho do personagem. Muito menos pensaram que a série se tornaria desinteressante.

Quando um interesse amoroso era apresentado ao Doctor, seja uma paixão pela companion ou por qualquer outra personagem, o fandom virava a cara querendo mais aventura e menos romance, dizendo que Doctor Who não era uma série sobre isso (o que de fato não é). O que fez com que whovians de todo o mundo, sejam homens ou mulheres, mudassem de ideia? A ideia de termos uma mulher desempenhando um papel forte, inteligente e destemido? Uma protagonista mulher?

Um gênero?

Sim. Essa é a resposta. E o motivo? A intolerância e a violência que é despertada quando mulheres são vistas desempenhando papéis fortes, mascarado de “defesa do tradicionalismo da série”.

A verdade é que ainda há quem queira derrubar a ideia de que uma mulher não seria boa o bastante para interpretar um Doctor. Para ser o papel principal. Para ganhar os olhos e corações mundo afora por ser destemida. Por ser forte. Por salvar. Por se aventurar. Isso porque o mundo, parte dele, não está pronto para ver mulheres sendo fortes.

Podem tentar usar o argumento que for, seja ele físico, tradicional, de sagacidade, do que é considerado interessante e o que não é. O nome real dessa reprovação e de tantas exigências é ignorância. Só é fato de que muito do público de Doctor Who admira hipocritamente o que é pregado na série (a bondade, o respeito, a renovação, a generosidade, o respeito à diversidade), pois assim que um episódio se acaba o discurso é outro.

Voltamos a repetir que Doctor Who é sobre mudanças! É a compreensão e o abraço às diferenças. É celebrar todo o tipo de existência, humana ou não, e acreditar que todos tem as mesmas capacidades. Que cada ser importa. Time Lords, desenvolvidos que são, “estão há bilhões de anos a frente da obsessão humana ridícula com gênero e seus estereótipos associáveis”, como o próprio 12º Doctor explica para Bill em “World Enough and Time“. Até quando, não apenas o fandom, mas o mundo vai considerar o feminino como ofensivo ou chato?

Não se unam para apunhalar alguém pelas costas baseado no que são. Unam-se e entendam que a TARDIS é um lugar para todos. Sejam gentis.

E sim, Master, o futuro é (também) das mulheres. E o futuro já chegou.

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