Resenha – The Eleventh Hour

Por Time Lady

Quando me chamaram para retornar ao Universo Who como convidada para postar resenhas dos episódios pensei em fazer algo um pouco diferente.

 

Primeiro porque pretendo resenhar episódios em ordem aleatória e também porque quero falar um pouco sobre a estória de alguns personagens da série.

 doctor_amy

Tendo isto em vista, começo com um episódio do qual gosto muito e que assisti muitas vezes, que é o Eleventh Hour.

** Contém spoilers **

 

O episódio começa exatamente após a regeneração do 10º Doctor e dá início à era Moffat, com um novo Doctor, nova companion e nova TARDIS, a BBC poderia facilmente ter feito o mesmo que fez em 2005, quando a série voltou à TV, e iniciar uma nova contagem de episódios pois o que vemos a partir de Eleventh Hour é totalmente novo.

 

O que vemos já na abertura é que a série se torna mais sombria, ao invés do vórtex de cores alegres das quatro temporadas anteriores temos nuances mais sóbrias e raios que acertam a TARDIS em cheio.

 

Ainda na abertura, as nuvens se transformam em chamas e parecem engolir a TARDIS.

 

Apesar de esta abertura caracterizar bem o estilo de Matt Smith como um Doctor mais sombrio, enigmático e até mais perigoso, não gosto das nuvens e acho que elas não tem muita relação com o vortex temporal.

 

O episódio traz uma menina que, 14 anos depois se tornaria sua companion.

 

Ela se apresenta como Amelia Pond, que, de acordo com ele, é um nome de conto de fadas.

 

Acredito que a série em si, sobre um homem que viaja pelo tempo/espaço e que cruza o caminho de reles mortais os levando a lugares maravilhosos e aventuras fantásticas já é um conto de fadas por sí próprio e este episódio faz jus à temática pois invoca vários elementos de faz de contas, à começar pelo local onde a TARDIS cai, um jardim sob a luz da lua, que vemos em várias estórias infantis conhecidas, onde mora uma garota órfã, como muitas mocinhas cujas estórias escutamos quando crianças.

 

Gosto muito da Amelia criança, ela, como o Doctor vem outro lugar e sente saudades de sua casa e acho que Moffat foi muito feliz ao fazer esta analogia.

 

Adoro a cena em que ela pede ao Papai Noel, apesar de ser Páscoa, que ele dê um jeito ou que ao menos mande alguém para consertar a rachadura da parede de seu quarto e aí vemos um outro lado (bem conhecido, por sinal) de Moffat, que explora o medo irracional que temos de algumas coisas, (que parecem bem simples e inofensivas) quando crianças e às vezes até depois de adutos (quem não tem medo de nada, que atire a primeira pedra! rs).

 

Ele faz o mesmo com os Vashta Nerada em Silence in the Library e Forest of the Dead. Quem imaginaria que uma sombra pudesse ser tão voraz antes destes episódios?

 

Aí vemos a sutil linha que separa o conto de fadas do horror de uma rachadura misteriosa na parece por onde se ouve vozes estranhas, um monstro que pode se passar por qualquer pessoa, desde que conviva com ela por determinado tempo e um quarto inteiro que não pode ser percebido.

Quem em sua infância não sonhou (ou teve pesadelos) com a descoberta de uma nova dimensão, um lugar que estava o tempo todo ao alcance e ao mesmo tempo oculto?

 

O primeiro encontro de Amelia e o Doctor é cercado de admiração, curiosidade e medo, ao mesmo tempo em que a menina se sente maravilhada por aquela aura de magia, ela também tem um certo receio dele pela forma que o Doctor entra em sua casa exigindo vários pratos diferentes de comida, o que nos leva a mais uma alusão à contos de fadas, desta vez, de um homônimo de nosso personagem principal, o Doctor Seuss, com sua The Cat in the Hat, estória de um gato que surge do nada e faz com que duas crianças se divirtam quebrando algumas regras.

 

Na época do episódio, vi várias pessoas criticando a cena alegando que atitudes como exigir comidas diferentes e cuspir o feijão na pia como vemos o Doctor fazer são seriam adequadas ao personagem, mas acredito mesmo que a ideia de Moffat foi brincar com a estória de Doctor Seuss e achei bem divertida.

 

Acredito que a própria Amelia se diverte com estas excentricidades como um pretexto para bagunçar a cozinha, brincar de casinha.

 

Me lembrei também de Girl in the Fireplace, também de Moffat, em que uma menina conhece um homem que não envelhece e o encontra novamente, já adulta.

 

Para ele, se passou um dia, uma ínfima fração de tempo, para ela se foram anos imaginando se iria novamente se encontrar com aquele homem mágico.

 

Admito que quando ele disse que voltaria em cinco minutos, tive certa pena da Amy pois 5 minutos para ele podem não ser a mesma quantidade de tempo para nós, meros mortais.

 

E então a menina cresce contando estórias de seu doutor maltrapilho, sendo vista como louca por acreditar em uma estória tão fantástica, ela o imortalizou como seu conto de fadas pessoal.

 

Outro tema recorrente nas estórias de Moffat são as coisas que parecem ser algo à primeira vista ou que não vemos logo de início, máscaras, fachadas falsas que parecem inofensivas, estátuas que ganham vida com um piscar de olhos, máscaras de gás, que supostamente devem salvar, robôs feitos de máquinas de relógios e as sombras de Silence in the Library.

 

Esta dualidade aparece em todo o episódio, o monstro, Prisioneiro Zero, que assume a forma de várias pessoas diferentes e só podemos reconhecê-lo quando ele não consegue coordenar a fala com os corpos que assume, Amy, que a princípio pensamos ser uma policial, quando na verdade trabalha como Kissogram (traduziria como Beijograma, um telegrama ao vivo em que a pessoa vai para beijar o homenageado), o próprio Doctor que está se adaptando em seu novo corpo (“novo corpo, novas regras”, de acordo com ele mesmo), a própria rachadura na parede que nada mais é do que uma fenda no espaço/tempo e um quarto inteiro que ninguém consegue perceber.

 

Não gostei muito do visual do Prisioneiro Zero, mas achei muito boa a ideia de ele assumir a forma dos pacientes em coma do hospital, onde conhecemos Rory, o namorado de Amy.

 

Achei que a ala dos pacientes em coma estava simples para pessoas em uma situação tão delicada, mas com um episódio tão cheio de detalhes e informações, isto não interfere no enredo e sabemos que a série não conta com um orçamento tão grande para cobrir detalhes como este.

 

A interação Amy-Doctor quando ele retorna depois de 12 anos é bem dinâmica e pelo menos para mim causou certa empatia, ele tenta convencê-la de que é a mesma pessoa que ela conheceu quando criança, que ainda quer levá-la para lugares novos e pede a ela (e a nós, espectadores) que confie nele ao menos por 20 minutos.

 

Foi uma frase de forte apelo, na minha opinião, pois gosto do Doctor de David Tennant e acho que ele fez um ótimo trabalho como o Doctor antes de Matt Smith.

 

Matt usou alguns aspectos do Doctor de David Tennant (sugiro que fechem os olhos e escutem o “hello” logo que ele chega ao hospital).

 

E por fim, ele assume sua individualidade, com nova roupa e nova TARDIS.

 

O episódio é um dos meus favoritos da 5ª temporada, acredito que seja o primeiro em que vemos ao mesmo tempo uma companion e um Doctor novos, desde o episódio “Rose”, começo da série atual.

 

A atuação e interação de Matt Smith e Karen Gillan estão ótimas, adoro quando, ao final, após 14 anos, ambos escondem o real motivo para partirem atrás de novas aventuras, Amy, fugindo de seu casamento (me lembrei um pouco da Donna, apesar de ela não ter fugido, mas esteve na TARDIS no dia de seu casamento também) e o Doctor confessando que se sente solitário, quando vemos atrás dele um gráfico com a mesma forma da rachadura no monitor da TARDIS (o Doctor mente, sabemos disso rs).

 

Foi um ótimo episódio após um longo tempo sem Doctor Who e muita expectativa admito que não me decepcionei nem um pouco!

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