Review de “The Time of the Doctor”

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SPOILER FINGERS E CUSTARD!

Admito que esperava muito mais de “The Time of the Doctor”. Como um todo, achei-o fraco, decepcionante se comparado aos outros dois membros da trilogia do Doctor: The Name e The Day. O brilho do episódio está todo em momentos, referências. Algumas cenas brilham, de fato. Vou começar indicando as…

FALHAS

Prestes a alavancar....Mas não.
Prestes a alavancar….Mas não.

The Time começa muito bem, o Doctor pulando de uma nave a outra sempre com a peça mais errada possível em mãos, um clima descontraído, mas com uma dose de tensão boa pra introduzir-nos à história.  Contudo, a partir do segundo em que a subtrama do Natal dos Oswald ganha a tela, senti um completo mal uso do tempo disponível, 60 minutos, para tantas informações a serem explicadas, tantas outras introduzidas e ainda, com direito a uma regeneração nessa massa de bolo.

Essa subtrama é um bom exemplo de como o Moffat entope a tela com muitas histórias, levando as firulas a serem, por vezes, mais importantes que o desenvolvimento da trama principal. É a primeira vez em que isso me incomoda, sendo a razão bem simples: há um descompasso entre a quantidade de informação passada e o ritmo da história.

Em quase todos seus finales, Moffat nos entulha de resoluções em meio a novos contextos, mas sempre com um ritmo acelerado, fazendo parecer natural não haver tempo para se aprofundar em tudo que vemos. Dessa vez, recebemos informação demais, mas o episódio só ameaça sair da monotonia. Para que os Oswalds? Firula natalina. Weeping Angels? Susto com um dos vilões marcantes da era.

Melhor seria se não tivesse saído da neve.
Melhor seria se não tivesse saído da neve.

Com isso, perdemos a ação em detrimento de narrações da Tasha Lem como fundo de momentos isolados.Esse mesmo artifício funcionou muito bem em “The Day of the Doctor”, graças à complexidade da guerra temporal, mas falhou nessa “hora” porque não tivemos um momento climático que conseguisse sair daquele “balança, mas não cai”.

Regeneração destruidora de Daleks.
Ah! Se os Time Lords usassem isso na Guerra Temporal…

“Perdão, estou um pouco lento.” Essa fala, de uma das cenas finais do episódio, nos remete a isso. E é na mesma que vemos o cúmulo da resolução apressada forçada. Não consigo engolir energia de regeneração sendo usada como arma de destruição em massa de Daleks. Isso foi longe demais.

É como se a história passasse, o episódio se desenvolvesse e tudo que conseguimos enxergar fosse um relance disso. A ação foi pulada, os momentos mais importantes resolvidos às pressas e cenas desnecessárias “pipocaram” para sustentar uma atmosfera natalina e engraçadinha. Entretanto, há também…

ACERTOS

Há diálogos excelentes. Fica difícil escolher qual dos momentos do Doctor foi o melhor. Seja com Tasha Lem, Clara ou “Handles”, simplesmente fantástico. Matt Smith se despede estando impecável. O adeus a “Handles”, foi certamente um bom exemplo de sua qualidade como ator. Claro, não poderia ficar sem falar da relação Doctor x Clara, que aqui mais uma vez é tratada como a de dois amigos, que não viajam juntos todo o tempo. Jenna Coleman continua muito bem no papel.

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“Obrigado, Handles, e bom trabalho.”

Falando em “Handles”, a cabeça de Cybermen foi uma alegoria muito bem aplicada, que conseguiu demonstrar como que, mesmo sem vida, aquele “objeto” consegue causar tamanha comoção no Doctor ao lembrar-lhe de colocar o telefone da TARDIS no console novamente. Ora pois, aquele pedaço de Cybermen foi sua única lembrança de sua vida antes de chegar em “Christmas” e sua companhia durante todo seu tempo na cidade. Uma outra alegoria bem vinda, foi o nascer e pôr do sol, como o próprio Doctor afirma: “Tudo termina, Clara, e mais cedo do que você pensa.”

"É só uma rachadura na parede."
“É só uma rachadura na parede.”

Destaque também para Tasha Lem, Madre Superiora do que acabaria se tornando a Igreja do Silêncio. A personagem foi bem apresentada, sendo uma das heroínas do episódio, afinal, foi ela quem conseguiu prevenir uma guerra, segurar os que pretendiam invadir o planeta e ainda ajudar a exterminá-los, mesmo estando morta e tendo um aparato Dalek em si. Junto com sua igreja, foi responsável por nos trazer a explicação para mistérios vindos da 5ª e 6ª Temporadas.

Explicação que foram acompanhadas pelos flashbacks, que envolveram tanto cenas da 5ª Temporada, o Doctor e seu quarto em “The God Complex”, a volta das rachaduras e a descoberta que os Silents na verdade são padres confessionários. Muito bem colocados. Brilhante.

Assim como a adição do plot da volta dos Time Lords já nesse episódio. Quando “Handles” indica que o planeta era Gallifrey a um Doctor confuso, e quando sabemos que o Último dos Time Lords tem a chance de resgatar seus semelhantes, surge um dilema. Dilema tão grande que faz o Doctor levar mais de 300 anos sem decidir, que leva ao cerco de Trenzalore, que leva a todo o plot da era do 11º! Típico Moffat, onde a causa é consequência da consequência da causa!

"Maltrapilho...Boa noite."
“Maltrapilho…Boa noite.”

O episódio termina com a primeira cena de Doctor Who que me fez soltar lágrimas, a regeneração do meu Doctor moderno favorito. O tom foi perfeito. A trilha sonora tocando “Wake Up” de “The Rings of Akhaten”, que aqui caiu como uma luva.A carga emocional da cena veio toda da nostalgia das boas memórias que temos com esta regeneração, associada às alucinações do Doctor e suas resoluções bem resolvidas quanto à vida e à morte. Vemos fish fingers e custard, o Doctor como conhecíamos, sem roupas de maltrapilho. Foi uma regeneração digna, na qual a troca do rosto do Matt pro Capaldi foi bem veloz, como um curativo sendo arrancado o mais rápido possível, para doer menos.

"Você saberia como pilotar essa coisa?"
“Você saberia como pilotar essa coisa?”

E…CAPALDI! Rins! É interessante notar sua expressão logo após regenerar, perdido, mas ao mesmo tempo cheio de energia. Ele não reconhece Clara ou lembra como pilotar a TARDIS, irônico, se levarmos em conta que segundos antes o Doctor afirmara que jamais esqueceria uma linha daquilo, mas comum, provavelmente efeitos colaterais temporários da regeneração.

Esses foram para mim os momentos dessa “hora” que brilharam, contudo, há também aquilo que não sei se gostei ou não, observações e curiosidades, ou seja…

TODO O RESTO

Bill, é você?
Bill, é você?

O envelhecimento do Doctor em “Christmas” é algo que me deixa em dúvida…foi bom? Precisava mesmo? Ao mesmo tempo em que adiciona carga dramática vê-lo envelhecido, solitário e ao mesmo tempo o único que podia cuidar daquele lugar, não teria sido muito mais a cara do Doctor arranjar um plano em meio a todo esse tempo e conseguir resolver algo?

Seu envelhecimento me trouxe à mente uma possibilidade, afinal, estar fora da TARDIS poderia influenciar na idade aparente da regeneração? Porque, sendo ou não de propósito, o Doctor em sua idade mais avançada parece bastante com sua primeira encarnação.

 

Continuando na trilha das referências, não há como ignorar a citação ao Master e ao próprio Selo de Rassilon, roubado do outro Time Lord na Zona Mortal de Gallifrey, no arco The Five Doctors, ou o Doctor e sua batidinha no nariz, exatamente como sua quarta encarnação. Falando em referências, o Selo de Rassilon ou o 11º batendo no nariz com o indicador, foram prazerosas de ver. Talvez não proposital, mas digno de nota, temos também a semelhança entre o Doctor em seu estágio avançado e sua primeira encarnação e o fato da Clara morar num prédio igual ao da Rose. Talvez seja apenas caracterização de um velhinho e locação repetida, mas quem sabe…

Rose Tyler X Clara Oswald
Rose Tyler X Clara Oswald

A breve participação dos Time Lords de Gallifrey, que deram ao Doctor um novo ciclo de regenerações, nos leva a um novo arco com o Doctor tentando resgatar sua raça ou não? Afinal de contas, será que se Gallifrey voltar para seu universo de origem, não teríamos obrigatoriamente uma outra nova grande guerra?

E mais, como que o Doctor tinha um túmulo em Trenzalore, então? Artimanha de Tasha Lem? Realmente acharam que ele morreu após a explosão na torre?

CONCLUINDO

O episódio se perde em seu ritmo defeituoso, tem bons momentos, atuações e trilha sonora, mas nada disso equilibra o saldo negativo criado. Primeira vez que fico decepcionado com o Moffat e não consigo achar uma justificativa plausível para isso. Ao mesmo tempo, achei a cena de regeneração e a introdução do 12º Doctor digníssimas, sem exageros, no tom ideal.

Dedico o texto ao magnânimo The Tozz, que está se despedindo com este episódio da legendagem de Doctor Who, após 6 anos inteiros dedicados a trazer as melhores legendas em português da série. É também, em si, o fim de uma era.

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