Review: Robot of Sherwood

doctor-who-robot-of-sherwood-peter-capaldi

Os episódios de Doctor Who escritos por Mark Gatiss costumam ser motivo de apreensão de boa parte dos fãs. Apesar de concordar com o fato de seus episódios deixarem a desejar em vários aspectos, gosto do clima leve que ele sempre traz à série, fornecendo alívios à crescente climatização sombria das tramas. Seu mais recente roteiro, Robot of Sherwood, não foge do que se espera de Gatiss, mas é bem-sucedido em construir uma aventura clássica típica de uma tradição televisiva de anos atrás, como por exemplo a série da ITV “The Adventures of Sir Lancelot”, de 1956, protagonizada por ninguém menos que William Russell, o primeiro companion da série clássica; e Patrick Troughton interpretando o próprio Robin Hood na série homônima da BBC em 1953 (série que é referenciada no episódio através de uma still de Troughton caracterizado aparecendo no banco de dados da nave dos robôs).

O Robin Hood de Tom Riley é o maior destaque do episódio, tendo uma presença marcante em sua caracterização tipicamente jovial de herói galante. O conflito entre este personagem tão expansivo e o Doctor, acostumado a ser sempre ouvido e ter suas ordens obedecidas, garante momentos humorísticos fantásticos, particularmente na cena em que Robin, Clara e o Doctor estão presos na masmorra do xerife de Nottingham e disputam para estabelecerem quem está no controle da situação. Neste contexto, também foi interessante observar um novo aspecto da persona do 12º Doctor que, até então, havia apresentado apenas seu lado mais sombrio. A ótima cena de luta entre Robin e o Doctor, este armado com uma colher, promete ser um momento que será lembrado como característico da encarnação de Capaldi.

Enquanto os protagonistas masculinos estão engajados nesta disputa de testosterona, Clara teve mais momentos de destaque. Em uma temporada inaugural de um Doctor, ela parece estar protagonizando estes primeiros episódios, uma reminiscência do início da série clássica, quando o Doctor ainda era uma figura misteriosa vista através dos olhos de seus companions. A cena do interrogatório do xerife traz ótimas atuações tanto de Jenna Coleman quanto de Ben Miller.

Miller, aliás, ficou extremamente parecido com o Master de Anthony Ainley, não só em aparência quanto em uma linguagem corporal de vilão maquiavélico clássico. Até mesmo seu plano de se aliar a alienígenas para dominar o mundo é um template básico de qualquer esquema do Master. Talvez seja nesse aspecto que o episódio peque, ao apresentar um vilão que se assemelhe tanto a um personagem fortemente enraizado na tradição da série, ao invés de investir em uma caracterização específica marcante para o xerife de Nottingham. Não posso deixar de ressaltar, porém, que mesmo isso funciona na história.

O diálogo final entre Robin Hood e o Doctor apresenta um momento sensacional em que Robin, inicialmente, aparenta estar falando de si mesmo, mas depois percebemos que se trata de outra pessoa.

ROBIN: History is a burden. Stories can make us fly.
DOCTOR: I’m still having a little trouble believing yours, I’m afraid.
ROBIN: Is it so hard to credit? That a man born into wealth and privilege should find the plight of the oppressed and weak too much to bear…
DOCTOR: No–
ROBIN: …until one night, he is moved to steal a TARDIS?

Sutil e poderoso, concluindo muito bem um divertido episódio, este é apenas um dos momentos em que é traçado um paralelo entre Robin Hood e o Doctor, ambos “heróis impossíveis” dispostos a ajudar aqueles que necessitam. Mesmo recorrendo a artífices nem tão sutis para resolver a trama (aquela flecha de ouro era exatamente o tanto que precisava para fazer a nave decolar sem explodir na atmosfera) e a uma revelação meio brusca de que a mulher que ajudara o Doctor a se libertar das correntes era a tão buscada Marion, Robot of Sherwood é uma aventura satisfatória e empolgante.

Nos acompanhe e curta nosso conteúdo!