O showrunner de Doctor Who, e escritor de suas aventuras, incluindo sua performance final, fala sobre a última aventura da Décima Terceira Doutora.
Por BBC | Tradução Luisa Machowski
VOCÊ PODE NOS DIZER O QUE O PÚBLICO PODE ESPERAR DESSE ESPECIAL?
Podem esperar uma enorme jornada cheia de emoção e aventura do começo ao fim. Vai ter risadas, vai ter grandes perigos e vão ter lágrimas na partida da Décima Terceira Doutora. É a maior ameaça que a Doutora já enfrentou – que qualquer Doutor já enfrentou – em sua ou suas vidas.
VOCÊ PODE FALAR UM POUCO SOBRE O PROCESSO DE CONSTRUIR ESSE EPISÓDIO COM A DURAÇÃO DE UM FILME? O QUE VOCÊ COLOCOU COMO OBJETIVO AO COMEÇAR?
É um episódio particularmente breve e único porque é um episódio de regeneração, mas também é um episódio para celebrar o centenário da BBC e o lugar de Doctor Who dentro da emissora. Então eu queria ter certeza de ter escopo suficiente, mas também conectar passado, presente e futuro de Doctor Who.
Nós vamos trazer de volta personagens como Tegan e Ace, e também existem muitos e muitos easter eggs. Alguns são visuais, outros verbais, e uns tão bem escondidos que apenas algumas pessoas serão capazes de encontrá-los! Mas tem tantas referências ao passado de Doctor Who nesse episódio que ele tem sua própria identidade meio louca de filme para o centenário da BBC, enquanto também diz adeus para uma Doutora muito amada.
NÓS TEMOS ALGUNS RETORNOS ANIMADORES COMO SACHA DHAWAN, SOPHIE ALDRED E JANET FIELDING. COMO FOI TER ESSAS CONVERSAS?
Uma das grandes alegrias sempre são os telefonemas para pessoas que já participaram da série, ou que talvez queiram fazer parte, e lhes contar como você imagina que a história vai se desenvolver e pedir que voltem. Então as ligações para Janet e Sophie foram maravilhosas e incrivelmente emocionais. Elas foram fantásticas e ficaram animadas, e foram extraordinárias ao longo de todo o processo.
É importante tirar um momento para louvar a pura valentia e coragem delas – voltar para algo que você não faz há vinte ou trinta anos é incrível. Pisar em um set onde você não conhece ninguém, mas ao mesmo tempo voltar para um mundo que você achou ter deixado para trás é realmente extraordinário. E elas foram tão incríveis nesse episódio. É um deleite velas entre a Doctor Who moderna. Então essa parte foi fantástica.
Nós conversamos coletivamente sobre onde achávamos que seus personagens estariam agora. Eu realmente queria que elas estivessem confortáveis com o que tinha acontecido no tempo entre quando vimos essas personagens pela última vez em tela e onde encontramos elas agora. É levemente pincelado, mas é importante para elas como atrizes e para essas personagens.
VOCÊ SEMPRE QUIS TRAZER DE VOLTA COMPANIONS DO PASSADO?
Tem mais a ver com ter sido chamado para fazer um especial de centenário, eu achei que era necessário ter algo do passado que fosse forte, único e diferente de tudo que tínhamos feito durante o tempo de Jodie como Doutora. Então foi apenas uma oportunidade brilhante, e assim que sabíamos que era isso, foi uma das coisas que quis fazer.
Essas personagens e essas atrizes vieram na mente porque eu acho que elas são representantes de certos momentos na história da série, além de serem personagens incrivelmente fortes e vibrantes. Tem tantas opções das quais escolher e de certa forma você quer usar todas, mas na verdade eu tinha que escolher só duas! E o que ambas disseram separadamente foi ‘Oh, eu acho que Tegan se daria muito bem com Ace’ e depois ‘Oh, eu acho que Ace se daria muito bem com Tegan’.
Com Sacha, era um plano a longo prazo sobre o qual falamos da última vez que ele apareceu no programa. No final da décima segunda temporada eu falei com ele, sabendo que faríamos o episódio final da Jodie no fim da próxima temporada. A grande conversa foi sobre voltar para o finale dela, porque a sensação era de que seu Mestre e a Doutora da Jodie tiveram aquela química instantaneamente, e seria uma batalha final perfeita para os personagens. Foi necessário muito planejamento e obviamente fomos interrompidos pela pandemia então seguramos firme através de tudo, de todas as tempestades. Obviamente ele está em alta demanda e também estava filmando ‘The Great’, mas demos um jeito no final. Ele fez acontecer e nós ficamos emocionados porque esse era o plano o tempo todo. Ele recompensou a todos com uma performance incrível nesse episódio.
NÓS TEMOS UM FOCO EM VILÕES NESSE EPISÓDIO, FOI DIFÍCIL MANTER O EQUILÍBRIO ENTRE BEM E MAL? VAI SER UM EPISÓDIO SOMBRIO?
Eu diria que é um episódio rápido, vivaz e animador. O que você tem são três vilões em planos separados e múltiplas ameaças à Doutora. Então a Doutora está tendo que conter ataques separados em diferentes frentes e é incrivelmente esmagador. Ela corre de uma ponta a outra para tentar dar conta de todas essas coisas. E novamente, era algo que eu tinha em mente há muito tempo, que seria adorável fazer esse eixo maligno, esse triunvirato do mal no episódio final da Jodie. Não tínhamos feito isso, e quis guardar para o finale.
A ESCALA DESSE EPISÓDIO É ENORME, ALÉM DOS DESAFIOS ÓBVIOS COM A COVID-19, QUE OUTROS DESAFIOS FORAM ENFRENTADOS DURANTE ESSE PROCESSO?
Todas as sequências são enormes. Então a cena pré-créditos – que é a mais longa que já fizemos – é um minifilme a sua própria forma. E esse episódio tem mais cenas de efeitos visuais que qualquer outro episódio na história de Doctor Who. Foi uma demanda bem grande no time de efeitos visuais. Tem muita ação, tem muitas locações, tem muitos monstros, tem muitas coisas explodindo! Realmente desde o comecinho tem que parecer que estamos em constante movimento, constantemente mantendo a animação e eu acho que conseguimos. Foi muito trabalho e muita direção brilhante da parte de Jamie Magnus Stone, que é um talento incrível de verdade e tem uma habilidade de juntar emoção, ação, sustos e humor. Acho que ele fez um excelente trabalho.
COMO FOI ESCREVER AS CENAS FINAIS DA DOUTORA, E VOCÊ AS VIU SENDO FILMADAS?
Quanto a escrita, eu sempre soube para onde estávamos indo então eu sabia para onde estava escrevendo. Eu sabia quais seriam as palavras finais, e onde tudo aconteceria e acabaria. Então eu escrevi essas partes bem cedo e deixei reservado.
Eu estava no set para o dia final de filmagem, havia muitas pessoas no set e um fluir de amor enorme. Foi um dia muito especial e cheio de diversão, tinha muita música tocando, Jodie colocou playlists. Tinha uma atmosfera festiva de verdade no dia final, e aí acabamos com essas cenas finais incrivelmente emocionais. Foi um jeito incrível de verdade para acabar, eu tenho que dizer que os últimos dias de filmagem que tivemos foram prazerosos e particularmente depois de passar por um ano bem desafiador de filmagem, a sensação foi de tudo acabar no lugar certo. O time de produção fez um excelente trabalho ao programar para que as cenas finais da Doutora fossem as últimas cenas que precisávamos filmar o que nem sempre é o caso e foi muito apropriado, muito certo, muito amável. Não passou a sensação de um dia triste, sentimos que foi um dia muito feliz, uma sensação de trabalho bem-feito e tinha muito amor por Jodie e Mandip.
QUAL VOCÊ ACHA QUE FOI O IMPACTO DE JODIE EM SEU TEMPO COMO DOUTORA?
Ela mudou o jogo. Ela mudou a história em termo de Doctor Who. Eu acho que o que ela trouxe pra Doctor Who é cheio de esperança, positividade e generosidade e eu acho que os últimos tempos precisaram disso de verdade. Eu acho que ela mostrou seu lado cômico incrível, o humor que pode fazer, o qual as pessoas talvez não soubessem que possuía antes. Eu acho que ela enriqueceu o personagem do Doutor, assim como todos os atores que o interpretam fazem, mas é uma performance incrivelmente ousada e corajosa.
E ela tomou a responsabilidade do Doutor ser uma mulher, ela tomou em seus ombros e representou e isso não era um fato, isso foi sua força e decisão e poder. Eu acho que ela foi totalmente magnífica, ela excedeu as expectativas de todo mundo. Ela deu a chance de sentir que são o Doutor também para toda uma geração de jovens meninas e mulheres, e esse sempre foi o propósito dessa era desde o começo, realmente abrir a rede.
SE VOCÊ PUDESSE ESCOLHER SEUS DOIS OU TRÊS EPISÓDIOS FAVORITOS, QUAIS SERIAM?
Eu teria que pensar muito tempo, mas são definitivamente mais que dois ou três! Os que eu realmente amei olhando em retrospecto foram coisas como Spyfall, Rosa, Demons of the Punjab, Kerblam!, Fugitive of the Judoon, Ascension Of The Cybermen, War of the Sontarans, Village of the Angels, Eve of the Daleks. Mas na verdade, há vários deles que eu realmente amo e tenho muito orgulho. Acho que é impossível de escolher porque em dias diferentes, você sente coisas diferentes! Tem uma variedade enorme, de comédia pura a drama sério e ação e tudo entre isso. Eu realmente sinto que tentamos fazer o máximo de variedade nas histórias. A experiência toda é bem difícil de dividir em componentes quando se chega no fim!
DO QUE VOCÊ TEM MAIS ORGULHO DURANTE SEU TEMPO NA SÉRIE E DO QUE VOCÊ VAI SENTIR MAIS FALTA EM DOCTOR WHO?
É bem difícil de falar do que sentimos orgulho. Eu gosto do escopo e da variedade de histórias. Tem muito (do que sentir orgulho) – a primeira Doutora mulher, muitas mais mulheres escrevendo e dirigindo o programa, e um elenco mais diverso de diretores e escritores. Essa foi a essência a missão no começo para mim, era o que eu queria fazer quando entramos. E olhando agora, nos termos da jornada que tivemos, com certeza pudemos entregar isso. Isso foi muito, muito importante. Eu tenho bastante orgulho disso, mas também tem algumas histórias que a gente olha e pensa ‘acertamos mesmo nessa!’.
Eu acho que a coisa da qual vou sentir mais falta é a loucura de fazer a série. Porque você pode estar vendo o design de um monstro em um momento, então ir para os Estados Unidos dos anos cinquenta, e logo em seguida estar na correria – você pode fazer coisas em Doctor Who que não faz em nenhum outro lugar. E a equipe de efeitos visuais é incrível.
VOCÊ LEVOU ALGUMA LEMBRANÇA DO SET?
Sim, eu tenho um dos círculos do cenário da TARDIS, um monte de gente tem! Eu também tenho alguns presentes pequenos que me deram, a placa frontal da TARDIS – aquela plaquinha. Eu não levei muita coisa, porque eu tenho muito dos últimos dois anos! Estranhamente a coisa que você mais leva são memórias e não tem como explicar essas. Isso soa muito sentimental, mas é a verdade, não são os objetos, é a experiência e as pessoas.
TAMBÉM É O FIM DA JORNADA DA YAZ, O QUE PODEMOS ESPERAR?
É um grande episódio para a Yaz e é o último capítulo de sua história, e ela tem que lidar com muitas coisas. Eu queria passar a ideia de um episódio importante para a Yaz também, e acho que conseguimos.
Mandip, não existem palavras o suficiente em nenhum idioma para descrever o quanto Mandip é extraordinária, e o quanto ela foi brilhante para a série. Ela é uma atriz tão incrível. Ela é um dos seres humanos mais excelentes, ela é tão esperta, tão engraçada e todos na indústria televisiva deveriam estar fazendo fila para ter ela como a protagonista de sua próxima série porque ela é um talento incrível e uma pessoa maravilhosa. Eu não sou capaz de falar bem o suficiente dela.
Nós realmente demos sorte ao elencar ela porque nunca se sabe, e ter ela por toda a duração da era da Jodie – ela define esse tempo tanto quanto a Jodie. A jornada pela qual sua personagem passou, é tão grande. Minha admiração pela Mandip não tem limites.
VOCÊ ESTÁ ANIMADO PARA A PRÓXIMA ERA E SER UM ESPECTADOR NOVAMENTE?
Eu estou muito animado para não saber mais nada, já estou adorando isso! E na verdade, eu tive que dizer pro Russell umas duas vezes ‘por favor não me conta!’. Eu tenho sorte o suficiente de ter visto o final completo de The Power Of The Doctor e só o pedacinho do final me deixou muito animado sobre e ansioso para e desesperado para ver mais do que vem aí. É uma ideia muito gostosa!
VOCÊ PODE DAR UM GOSTINHO DO QUE VEM DEPOIS PARA VOCÊ?
Essa é a melhor coisa agora: eu não tenho que dar gostinho de nada. *ri* Eu estou tocando vários projetos diferentes, estou envolvido em projetos de palco, uma quantidade considerável de atividade na televisão e vamos ver aonde vai. Mas eu estou me divertindo muito fazendo várias coisas diferentes!
Traduzido de: Chris Chibnall talks about ‘The Power of the Doctor’ | Doctor Who