“I’m not your boyfriend”.
Prezados, sabe quando você ama algo de paixão e vive fazendo de conta que não se incomoda com as mancadas que este algo dá? Pois era assim que eu ia vivendo com Doctor Who. Não se engane: eu amo esta série. Amo demais e de paixão. Mas nunca engoli as cenas de flerte do Doctor.
Aos meus olhos, o Doctor é isto: o Senhor do Tempo. Com seus 2 mil anos de vida, seus trocentos idiomas e sua magnífica caixota azul, não consigo enxergá-lo como um “peguete”, nem tampouco shippá-lo com quem quer que seja. Ele me inspira respeito e admiração, e sua sexualidade pertence, talvez, à sua história ainda em Gallifrey, ou ao momento onde sua memória lhe falte, como em “Human Nature” (3×08).
Depois do desabafo, confesso que já amo Peter Capaldi por pedir que o Doctor seja mais Doctor e menos um namorado para as suas Companios. Já tivemos bastante flerte nos últimos anos, e até quando o Time Lord não estava muito a fim, tinha Companion comendo ele com o canto dos olhos (oi, Martha!).
Como não podia deixar de ser, o roteiro sambou em cima da nova fase assexualizada. Teve momento awkward de Clara jogando a Screwdriver onde não devia, teve a declaração da moça, super ofendida, de que nunca teve segundas intenções com o Senhor do Tempo (a gente acredita demais, claro). Mas o que mais me deixou maravilhada foi a safadeza de Moff. Ele tirou a parte sapeca do protagonista e injetou doses cavalares de hormônio na madame Vastra. O QUE TINHA ESSA MULHER NESSE EPISÓDIO? Gente, ninguém escapou da lábia dela. Até mandar Clara tirar a roupa ela mandou. Que fogo é esse, amiga?
Momentos como esses são maravilhosos e eu torço para que permaneçam, ainda mais quando a vítima da vez é outro personagem que não o Doctor. Além do mais, tem que ter algo leve e engraçado para contrastar com o lado negro da força, que em “Deep Breeth” foi a discussão sobre “quem é o Doctor depois de tantas mudanças”, “existe algum traço do Doctor original depois de tantas regenerações?”.
Reparem que na hora da morte do androide-90%-humano, o discurso do Doctor refletia também o seu estado de espírito, assim como enquanto a bandeja refletia o rosto do vilão, também refletia seu rosto do outro lado. Como se fossem dois lados da mesma moeda.
Quanto a quem estava mentindo sobre sua programação original, cá para mim tenho que a resposta seja mesmo o nosso querido Doctor. Digo isto porque, em “The Day of The Doctor”, o bom velhinho estava pronto para explodir todo mundo. E também, espero que o personagem interpretado por Capaldi seja mais sombrio, se aproximando do caráter carrancudo do First Doctor. Aliás, é bem o que parece ser a tendência dele, vide a cena dele negando um abraço à Clara (que fofo!), seu tom de voz (nem de longe alegre como o de seus antecessores), sua roupa escura e sem apetrechos, e seu olhar furioso com suas furiosas sobrancelhas majestosas.
Quanto à reação de Clara à regeneração, me senti um tanto impaciente com a moça. Sua insistência em ter a antiga aparência de volta, e em não reconhecer que era o mesmo homem que estava diante de si, me ofendeu um pouquinho. Fiquei imaginando o sentimento do Doctor perante tal resistência. Até dormindo ele estava pedindo pelo olhar reconhecedor dela… PORÉM, pondo-me no lugar da senhorita Clara Oswald por um minuto, cabe admitir que realmente não deve ser muito fácil ver um amigo querido mudar de corpo (e personalidade) em questão de minutos. Eu também ficaria horrorizada, além de provavelmente ter um ataque de pânico muito maior do que o da Companion. No final das contas, sou puxa saco do Doctor e fiquei ressentida, Clara. Mas te entendo, amiga. Te entendo.
Outro ponto que faço questão de observar é o Doctor se servindo de um bom uísque. Pelo menos na minha lembrança, tenho a cena de “A Town Called Mercy” na qual ele entrava no bar e pedia — com cara de mal do pedaço — “the strong stuff”: uma xícara de chá. Agora, meus amigos, ele se serve com bebida alcoólica e ainda oferece para o outro junto com uma ameaça de morte. Quem te viu, quem te vê.
Um discurso do Time Lord que me lembrou demais de “Eleventh Hour” foi ele dizer que as pessoas nunca eram pequenas para ele, e que não se deveria fazer suposições sobre o quão longe ele pode ir para protegê-las. Bem parecido com Matt expulsando Atraxi da Terra ao afirmar que este planeta está sob sua proteção.
Indo para o final desta longa review, temos duas perguntas que não querem calar: quem é a mulher do paraíso e que paraíso é este? Como não poderia deixar de ser, explosões de teorias aconteceram após a cena dela. Meu primeiro pensamento foi que seria River Song regenerada, mas isso é tão improvável quanto impossível (Moffat?). Perguntei as teorias da equipe do blog, e teve gente que até recorreu à literatura de Doctor Who, o que é muito válido neste imenso universo da série. Há quem aponte-a como a personificação da morte, e quem sugira que ela seja a Clara devido ao fator de mencioná-lo como “namorado”, num episódio onde tal palavra foi sumariamente relacionada à ela.
Para somar mais uma parcela ao conjunto de mistérios, tem a face do Doctor que já apareceu na história como pertencente a outro personagem. Até aí nada de novo, inclusive o próprio Moff declarou que o enigma será devidamente aproveitado no roteiro. Especulações sobre o significado disso tudo? Não tenho. Por enquanto.
Não posso deixar de comentar sobre a química de Peter com Jenna. Apesar de ainda não ter visto uma grande ligação entre a Companion e o Doctor, não posso negar que os dois se deram muito bem. Talvez o maior exemplar seja a cena (perfeita!) do restaurante, que teve toques de humor e amostras de intimidade. Vale ressaltar também a confiança da moça de que ele sempre estaria lá por ela na cena da pré-tortura. Que confiança! Que ousadia!
Comparando, Rose foi a amante, Martha a companheira, Donna a amiga sincera, Amy a amiga do peito. E Clara? Precisa de mais doses de amostra de intimidade para ser definida. A propósito, desde quando ela é “egomaníaca e louca por controle”? Ela sempre foi a mais meiga e mais doce, uai…
Para finalizar o texto e partirmos para o que interessa, vamos só comentar a cena do Doc prometendo cuidar da sua amiga dinossaura num diálogo bem… tão cheio de sinais que mais parecia um rap (com todo o respeito, meu Doctor). Aliás, pausa para a hora em que ele confessa que é sempre por acidente que ele conhece (e arrebata) garotas. Finalmente uma verdade, seu Time Lord.
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Não esqueci da cena do telefone. Na verdade nunca vou esquecer. Mas o que dizer dela? Dizer que meu coração derreteu que nem manteiga ao ouvir a voz de Matt e rever seu rosto pré-regeneração é redundante. A pergunta correta aqui é: o que fazer para me recuperar?
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Também não esqueci da nova abertura (desenhada por um fã!) e da nova decoração da Tardis. Me apeguei às anteriores e vou demorar um cadinho pra me acostumar. Sabe como é, né? Fã…
Referências que valem ser mencionadas:
* Confuso, o Doctor chamou Clara de Handles (a cabeça de Cyberman que ele tinha adotado). Ele também achou que Strax era um dos sete anões da Branca de Neve (!), chamando-o de “Sneezy”, “Bashful”, “Dopey”, e “Grumpy”.
* Quando o Doctor está conversando com o mendigo no beco, ele comenta sobre o frio, diz que deveria ter um cachecol, e logo diz que cachecol é estúpido: referência direta ao visual do Fourth Doctor.
* O Doctor tem dificuldade de relembrar os eventos de “The Girl in the Fireplace”, e cheira rosas amarelas enquanto tenta se recordar. A Companion da época era? Rose Tyler. Além disso, ele não nota a conexão (do plot de robôs roubando órgãos humanos para reparar suas naves) mesmo quando ele vê que SS Marie Antoinette é a nave irmã de SS Madame de Pompadour.
* Amy Pond (que deixou saudades) não deixou de ser mencionada: o Doctor sentiu falta de suas longas pernas na hora do perigo.
* “I’m sorry. I’m so, so sorry”: esta fala de Clara ao Doctor foi uma das mais usadas pelo Tenth.
* O Doctor desmaiando e Jenny perguntando para Clara quem era aquele homem, é exatamente o que aconteceu com Jackie, Rose e o Tenth em “The Christmas Invasion”.
* O mendigo foi interpretado por Brian Miller, esposo da falecida Elisabeth Sladen, a Sarah Jane Smith.
* Já podemos dizer que “How long can you hold your breath” is the new “Don’t blink”?
* O “paraíso” de Missy lembra demais o inferno de Amy em “The Girl Who Waited”. Teorias?
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