Rosa talvez seja um dos mais importantes episódios de Doctor Who, e não temos como deixar de lado todo o seu background ao analisar o episódio.
É um episódio que conversa com a atualidade de diversos telespectadores, seja qual a sua localidade e trás toda uma reflexão junto, ao abordar com delicadeza um evento histórico tão importante e que pode dar força a diversas lutas quando a desesperança bater a porta.
Rosa é mais um daqueles episódios em que um fato histórico se mistura com a ficção de Doctor Who. A importância de Rosa Parks, que dá nome ao episódio, se da pelo ato em protesto de não ceder seu lugar no ônibus para uma pessoa branca se sentar, que era lei nos EUA na época, no dia 1° de Dezembro de 1955 em Montgomery, Alabama, resultando no estopim do movimento antissegregacionista . O episódio começa então no dia anterior a esse acontecimento devido a uma insistência da própria TARDIS, visto que ela identificou uma quantidade anômala de energia artron ali e logo descobrimos que existe alguém que está tentando impedir que tal ato acontecesse.
A escolha por dar o foco no racismo, sem uma trama muito complexa foi acertada, assim os holofotes ficam muito mais na luta da personagem e na construção da trama do que na ameaça alienígena em questão. Aqui, temos apenas um viajante do tempo chamado Krasko, interpretado pelo ator , que tem como objetivo não deixar que Rosa cometa tal ato. Com uma motivação bem clara, impedir que o movimento antissegregacionista ganhe força, porém com um conjunto de artefatos vindos de uma possível agência, ou personagem, misteriosa, Krasko se apresenta como um frio assassino que após cumprir sua sentença recebe uma missão e não vê nenhum problema de evitar que ocorra a integração dos negros na sociedade. O personagem é cercado de mistérios, o primeiro deles é que fica bem aparente que essa não é uma agenda própria, sendo assim, a mando de quem ele estava? O que vem a ser G.F.B? Os dois episódios anteriores trouxeram um pouco da história dos Stenza, fazendo a gente pensar que não foi a ultima vez que eles foram vistos na série. E tendo em vista o histórico opressor dos Stenza, seria a G.F.B. uma agência dos Stenza? Estariam eles tentando sedimentar a segregação entre negros e brancos na maior potência da Terra para dar início a conflitos maiores que tornassem mais fácil a conquista dos terráqueos? Chibnall não aparenta ser alguém que deixaria pontas soltas (Um hello pra participação do Capaldi no aniversário de 50 anos e muitas outras que o Moffat não explicou!?) e acredito que a G.F.B e os Stenza façam parte de uma ameaça maior para a temporada.
O time TARDIS se mostra cada vez mais integrado e o destaque positivo se da para Graham. Não sei se pela experiência de Bradley Walsh, mas ele se provou completamente o oposto daquele tiozão chato que uma boa parte do fandom achava que ele iria ser. Os personagens ainda não decidiram viajar com a Doutora, ainda estão apenas sendo levados pela TARDIS e nesses três episódios o foco é estabelecer a relação entre eles e a Doutora e criar um gosto pela viagem. Ryan, segue como o segundo personagem mais trabalho, já que tem o apoio de Graham visto que este é seu familiar. No episódio Ryan ganha um destaque maior por sofrer a maior quantidade de preconceito seguido por Yaz, que descobrimos ter origem paquistanesa apesar de ter sido chamada de latina por todo o episódio. Yaz continua sendo a menos trabalhada, nesse episódio além da sua origem conhecemos um pouco das suas aspirações profissionais, também encorajada por Rosa, porém nada muito aprofundado. Aparentemente, o próximo episódio promete trabalhar um pouco mais Yaz, então é esperar pra ver. A esperança e determinação parecem ser a maior característica de Ryan, não só pelos outros episódios tratarem, mesmo que de forma leve, da sua relação com a dispraxia. Dessa vez o menino de 19 anos se vê num ambiente completamente hostil, leva um soco ao ser educado em devolver a luva que caiu de uma mulher, ter atendimento recusado em um restaurante e mesmo assim o menino se manteve forte. Segundo ele, o que são algumas horas sendo que Rosa Parks aguentou isso a vida toda. Apesar do racismo ainda não ter sido apagado, tais manifestações racistas aparentemente nunca tinham sido vividas por ele, já que o mesmo provém de uma sociedade não segregada mais, apesar de ainda racista.
E foi para Ryan olhar de encorajamento que Rosa deu ao sair do ônibus. O personagem foi um dos que mais interagiu com Rosa ao longo do episódio, e ela sentiu a necessidade de lhe dar força para continuar resistindo. Ela precisava passar esse exemplo pra ele, numa cena muito bem montada visualmente e com uma trilha sonora que veio para somar a uma cena tão emocional e nos fazer terminar o episódio com os olhos marejados, mas não só isso, com forças para continuar lutando, afinal de contas Ryan estava ali para nos representar um pouco e o olhar de força que se dirigiu pra ele nos toca, se comunica com nossas lutas diárias, nos pede para não desistir. Afinal de contas, como bem explicado pela Doutora ao final do episódio, Rosa Parks foi uma faísca para uma luta que levou ao fim da segregação entre negros e brancos, mesmo que com muitas baixas até em sua vida pessoal, mas nos da a força necessária para não desistir em momentos difíceis.
Em muitos aspectos Rosa desponta como um dos episódios mais tocantes e mais importantes da história de Doctor Who. De uma maneira simples o episódio conversa com seu telespectador com uma história importante e tocante, além de fundamental para os dias atuais. A nova temporada vem mostrando uma qualidade no seu desenvolvimento nunca antes visto, em detrimento da complexidade da trama, com um foco muito maior na interação dos personagens e sua trajetória. Esperamos que a linha seja mantida e que o Chibnall não tenha deixado a bola cair nos episódios restantes da temporada.
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