Chegamos ao aguardado início de temporada regular nessa primeira de duas temporadas já encomendadas na parceria entre Disney+ e BBC.
Apesar de já termos provado brevemente como seria a volta de Russell T. Davies sob o comando da série de navinha com os episódios em comemoração aos 60 anos da série e também no episódio especial de Natal, essa aventura também marca oficialmente o retorno de R.T.D. em uma temporada regular após sua saída em 2010.
Em Space Babies (Bebês Espaciais), Ruby descobre segredos do Doutor ao encontrar um bicho-papão em um fazenda de bebês no futuro.
Se você não assistiu o episódio, aconselho assistir e voltar depois, pois essa não é uma review livre de spoilers e alguns pontos do enredo serão discutidos.
A proposta aqui, considerando que essa nova fase da série é não somente continuar com as viagens intergalácticas do Doutor, mas também apresentar Doctor Who à um novo público, é expor aos novatos o maior número de elementos importantes referentes a mitologia da série. Já nos primeiros minutos o Doutor vai passando, como que se usando uma lista de afazeres, coisas como: alienígena? Mencionado. Viagens no tempo e espaço? Feito. Time Lords e suas nomenclaturas? Opa. Nessa nova introdução, nada melhor do que ter uma nova companion a bordo da TARDIS para receber essa avalanche de informações e, ao mesmo tempo, familiarizar o possível novo público com alguns termos. O que é uma TARDIS? Time And Relative Dimensions In Space.
Space Babies começa sendo uma continuação direta do especial The Church on Ruby Road que foi ao ar no último Natal. Logo depois de adentrar a TARDIS e passar pelas etapas iniciais de introdução ao Tempo e Espaço 101, Ruby e o Doutor viajam para o futuro onde uma estação espacial misteriosa os aguarda. As investigações são adiadas quando a dupla precisa fugir de uma criatura curiosamente assustadora que habita os níveis inferiores da estação.
Uma das marcas registradas do R.T.D. é levar a companion para o futuro, onde Doutor e companion discutem sobre a resiliência da raça humana e até onde conseguimos chegar, como o que aconteceu em The End Of The World (2005). Em Space Babies, Ruby fica encantada ao descobrir que, mesmo tantos milênios no futuro, ainda estamos por aí.
Somos apresentados ao conceito de Fazenda de Bebês: uma empreitada em alta tecnologia que cultiva bebês com o intuito de re-popular um planeta. O problema apresentado no episódio, além do monstro no porão, é que o governo do planeta que deveria receber os bebês, cancelou o projeto e deixou os bebês num limbo ético quanto ao que fazer com a vida de um recém nascido. Como Ruby, eu não sabia que estações espaciais ficam necessariamente paradas em órbita e não possuem motor de propulsão para buscar refúgio em outro planeta.
Outro aspecto que parece predominar a personalidade do Décimo Quinto Doutor é que, aparentemente, ele não guarda segredos como suas encarnações passadas e está mais do que disposto a falar sobre suas vidas passadas, familiares e, por que não, temas tabu como Gallifrey. Vemos, também, uma encarnação do Doutor que não se leva tão a sério: ele se permite assustar bebês, rir de companion e chorar. Tudo isso sem nunca deixar de ser o Doutor, como visto na conversa com Capitã Poppy sobre inseguranças pós ser deixada para trás onde disse, em tradução livre, “ninguém cresce errado”. Isso e o fato de que o Doutor continua mostrando simpatia por seres que aparentam ser os últimos da sua espécie.
Numa força tarefa composta por bebês falantes, uma babá, Doutor e Ruby, assistimos o mistério do bicho papão se desvendar ao descobrirmos que a criatura é, também, uma criação da estação espacial feita a partir do sistema de educação que ficou fora de controle.
Confesso que precisei assistir o episódio pela segunda vez para me habituar, ou melhor dizendo, me re-familiarizar ao estilo de série que Russel faz. Quando penso sobre as primeiras temporadas lá na Doctor Who de 2005, lembro que o que fez com que eu gostasse da série foram os enredos de ficção científica que a série abordava. E o que mais compreende o gênero ficção científica, especulando o futuro, suas tecnologias e consequências na sociedade, do que uma fazenda de bebês abandonados no espaço por dilemas éticos das pessoas que, supostamente, deveriam cuidar deles? Teve uma execução _um pouco_ absurda? Teve, sim. Mas esse é outro traço da escrita de Russell T. Davies em inícios de temporada, como vimos em Rose (2005) ou em Partners in Crime (2008). Mesmo assim, achei um conceito interessantíssimo com uma crítica indispensável para o gênero. No mais, preciso descobrir qual a ordem em que os episódios foram filmados, porque é impossível Ncuti e Millie terem tanta química assim já de cara.
Nos vemos por aí no tempo e espaço. Até a próxima.
Texto por: Gustavo França | 14/05/2024