William Russell, o professor Ian Chesterton em Doctor Who, faleceu aos 99 anos.

Obituário de William Russell

O ator de teatro, cinema e TV, fez parte do elenco original de Doctor Who.

William Russell, à esquerda, como Ian Chesterton, com William Hartnell como o Doutor, Jacqueline Hill como Barbara e Carole Ann Ford como Susan em Doctor Who no arco The Keys of Marinus, 1964. Imagem: BBC

Em 23 de novembro de 1963 – no dia seguinte ao assassinato do Presidente John F. Kennedy – o ator William Russell, que faleceu aos 99 anos, apareceu em uma nova série de televisão da BBC, se aproximou do que parecia ser uma cabine policial antiquada em um ferro-velho, de onde saiu um senhor idoso, dizendo ser o Doutor. Russell respondeu: “Doctor Who?” (Doutor Quem?).

E assim foi lançada uma das séries de TV mais populares de todos os tempos, embora os índices de audiência naquela noite tenham sido baixos devido à agitação política, o mesmo episódio foi exibido novamente uma semana depois. A série ganhou destaque, com Russell – como o professor de ciências Ian Chesterton – e William Hartnell como o Doutor, estabelecendo-se ao lado de Jacqueline Hill como a professora de história Barbara Wright e Carole Ann Ford como Susan Foreman.

Russell permaneceu até 1965, retornando ao programa em 2022 em uma participação especial como Ian e, desde então, participando alegremente de toda a agitação e convenções de fãs, dando autógrafos e testemunhando tudo o que tal fenômeno gera.

Antes disso, no entanto, Russell havia alcançado destaque no papel principal da série da ITV, The Adventures of Sir Lancelot (1956-57) – ele era robusto com um ar ousado; ele havia sido oficial da RAF nas fases finais da Segunda Guerra Mundial – e foi protagonista na adaptação televisiva da BBC de 1957 de Nicholas Nickleby, transmitida ao vivo em 18 episódios semanais.

William Russell no set da série de televisão dos anos 1950, The Adventures of Sir Lancelot. Fotografia: Mirrorpix/Getty Images

Quando Sir Lancelot foi para os EUA, a primeira importação da TV britânica a ser filmada em cores para um público estadunidense, Russell andou pela Quinta Avenida à cavalo e trajado como seu personagem, como um cavaleiro medieval místico que retornava no coração da Normandia. A série foi um grande sucesso.

A essa altura, ele estava estabelecido no cinema, interpretando um servo de John Mills em The Gift Horse (1952) e vários filmes de ação da Segunda Guerra Mundial, incluindo They Who Dare (1954), ao lado de Dirk Bogarde, dirigido por Lewis “All Quiet on the Western Front” Milestone – ele conheceu sua primeira esposa, a modelo e atriz francesa Balbina Gutierrez em um barco indo para Chipre para uma filmagem em Malta – e The Man Who Never Was (1956), de Ronald Neame, o primeiro filme sobre a Operação Mincemeat, em que ele interpretou o noivo de Gloria Grahame.

Até este ponto de sua carreira, ele era conhecido como Russell Enoch. Mas Norman Wisdom, com quem atuou na comédia farsa One Good Turn (1955), se opôs ao seu sobrenome porque sentiu (estranhamente) que isso divulgaria um rival vaudevilliano seu chamado Enoch. Assim, um tanto humildemente, e para manter Wisdom feliz, ele se tornou William Russell, embora, na década de 1980, por períodos felizes e produtivos com a Actors Touring Company e a RSC, ele tenha voltado para o nome de Russell Enoch. Mais tarde, ele optou novamente por William Russell. Tudo muito confuso para os historiadores. A campainha na porta de sua casa, no norte de Londres, trazia o nome “Enoch”.

Ele nasceu em Sunderland, filho único de Alfred Enoch, um vendedor e dono de uma pequena empresa, e de sua esposa, Eva (nascida Pile). Eles se mudaram para Solihull e depois para Wolverhampton, onde William frequentou a escola primária antes de passar para o Fettes College em Edimburgo e para o Trinity College, em Oxford, onde seu tutor de economia foi o brilhante parlamentar trabalhista Anthony Crosland.

Mas Russell não “compreendeu” a parte de economia do curso FPE (filosofia, política e economia) e mudou, para alívio de Crosland, para o Inglês. Naqueles anos, 1943-46, ele trabalhou no serviço nacional e apareceu em revistas e peças com contemporâneos talentosos como Kenneth Tynan, Tony Richardson e Sandy Wilson.

Derek Ware, coordenador de luta, ensaia uma cena com Russell durante uma pausa nas filmagens da história de Doctor Who, The Crusades, nos estúdios da BBC, Ealing, em 1965. Fotografia: Mirrorpix/Getty Images

Ao se formar, ele atuou semanalmente em Tunbridge Wells, quinzenalmente no Oxford Playhouse e atuou, modestamente, no Alec Guinness Hamlet de 1951 no teatro New (agora Noël Coward). Ele teve grandes papéis em temporadas no Bristol Old Vic e no Oxford Playhouse no início dos anos 60, enquanto na televisão ele estava em An Inspector Calls, de JB Priestley, com John Gregson, e era St John Rivers em Jane Eyre.

Ele interpretou Shylock e Ford (em Merry Wives of Windsor) em 1968-69 no Open Air, Regent’s Park, antes de ingressar na RSC em 1970 como Reitor em Measure for Measure (com Ian Richardson e Ben Kingsley), Lord Rivers em Richard III de Norman Rodway e Salisbury em uma turnê de King John, com o papel-título interpretado por Patrick Stewart.

Suas aparições no cinema diminuíram, mas ele interpretou pequenos papéis em bons filmes como Superman (1978), estrelado por Christopher Reeve, como um dos Anciãos; como um transeunte atraído pela violência no filme de terror hispano-americano Deadly Manor (1990); e em Death Watch, de Bertrand Tavernier (1980), uma fábula futurista de ficção científica sobre celebridades, reality shows e corrupção, estrelada por Romy Schneider e Harvey Keitel.

Com a Actors Touring Company de John Retallack nos anos 1980, ele era um Sir John Brute cambaleante e apoplético em The Provok’d Wife, de John Vanbrugh, possuindo, disse Jonathan Keates no Guardian, “uma elegância estranhamente filosófica”; um Alonso civilizado, proferindo habilmente alguns dos melhores discursos de The Tempest; e um rei, camponês, soldado e czar virtuoso que muda rapidamente na sátira surrealista de Alfred Jarry, Ubu Roi, de 1896, na tradução de Cyril Connolly.

De volta ao RSC em 1989, ele foi o oficial da corte Egeus em polainas brancas (Helena usava Doc Martens) em uma excelente produção de Sonho de uma Noite de Verão de John Caird, e tanto o Ghost e First Player vestido com pijamas na adaptação de Hamlet de Mark Rylance, dirigido por Ron Daniels. Em 1994, ele assumiu (no lugar de Peter Cellier) como Pinchard na deliciosa produção de Peter Hall do Le Dindon, de Feydeau, renomeada na tradução como An Absolute Turkey, o que não era.

Ele voltou a Rylance na temporada de abertura daquele ator/diretor em 1997 no novo Shakespeare’s Globe. Ele foi o rei Carlos VI da França em Henrique V e o tutor de Tim na turbulenta comédia jacobina de Thomas Middleton, A Chaste Maid in Cheapside. Muitos anos depois, em 2021, seu filho Alfred Enoch (Dean Thomas nos filmes de Harry Potter) estaria no mesmo palco como um Romeu entusiasmado.

Em Doctor Who na televisão:

  • An Unearthly Child
  • The Daleks
  • The Edge of Destruction
  • Marco Polo
  • The Keys of Marinus
  • The Aztecs
  • The Sensorites
  • The Reign of Terror
  • Planet of Giants
  • The Dalek Invasion of Earth
  • The Rescue
  • The Romans
  • The Web Planet
  • The Crusade
  • The Space Museum
  • The Chase
  • The Power of the Doctor

Russell deixa sua segunda esposa, Etheline (nascida Lewis), uma médica, com quem se casou em 1984, e seu filho, Alfred, e seus filhos, Vanessa, Laetitia e Robert, de seu casamento com Balbina. E quatro netos, James, Elise, Amy e Ayo.

  • William Russell Enoch, ator, nascido em 19 de novembro de 1924; falecido em 3 de junho de 2024.

Escrito por: | Tue 4 Jun 2024 17.40 BST

Traduzido de: theguardian.com

Traduzido por: Jéssica Laíse

Nos acompanhe e curta nosso conteúdo!