Review: The Bells of Saint John

Por Arlane Gonçalves
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Esperar pela volta de Doctor Who não é fácil. Depois de séculos de espera e de Moffat dizendo que gosta de assustar as criancinhas… quando ela finalmente volta é que a gente nota o quanto sentiu saudade. Depois que terminamos de ver o episódio novo parece que tivemos um pedaço da alma restaurado… ou melhor, a alma inteira restaurada. Credo. Doctor Who faz falta demais.

The Bells of Saint John foi o responsável por nos tirar do coma em que entramos depois do Natal, e foi o responsável também por introduzir propriamente Clara Oswin Oswald. Já conhecemos um pouco da nova Companion em Asylum of the Daleks e mais um tanto em The Snowmen. Agora foi a vez de vermos a Clara contemporânea e humana, iniciando de vez suas aventuras com o Doctor.

O episódio começa com o Doctor em um monastério, recluso em um lugar calmo para pensar em uma forma de entender e (re)encontrar sua mulher impossível. Isso tudo lembra muito o “conselho” que a pequena Clara deu para ele no Prequel quanto a achar um canto sossegado para se lembrar de onde deixou sua “coisa perdida”.

De antemão, ao vermos a versão infantil da nova personagem, nos lembramos da versão pequenina de Amy Pond. Ambas são para lá de destemidas e não têm medo da figura estranha do Doctor, mesmo que, no caso de uma delas, a mãe ainda tenha avisado que não convém conversar com estranhos.

E enquanto vemos meninas super poderosas corajosas, Moffat continua com suas tiradas certeiras quando se trata do universo feminino. Não sei se você ouviu por aí a polêmica sobre o senhor Steven desrespeitar as mulheres através das falas do Eleventh, mas o fato é que teve muitas fãs descontentes com o showrunner por aí. Bem, aqui em Bells (como não podia deixar de ser), tivemos um gesto rápido e fugaz, mas que com certeza foi um capricho do roteiro. Na hora em que Clara liga para o telefone da Tardis, o monge pergunta se é algum “espírito do mal”, ao que o Doctor responde que não, é uma mulher. Em seguida, inocentemente o religioso faz o sinal da cruz e uma cara de “Deus nos proteja”…

Tenho a impressão de que este ambiente de tratar (sarcasticamente) as mulheres como um “mal temível”, (e não vejo isso como ofensivo), parece muito com o que vemos em Sherlock, cujo showrunner também (olha só!) é o senhor Moffat. Aliás, depois do Doctor se vestir de Sherlock em The Snowmen, tivemos neste episódio um recurso de cena de lá: fórmulas e palavras aparecendo na tela.

E já que estamos falando em referências, deu para perceber bastante as feitas ao 2×07, The Idiot’s Lantern. Na época, o Tenth se deparou com The Wire, que extraía a face das pessoas. Nos dois casos, as vítimas ficavam presas em telas e, novamente nos dois casos, as duas Companions foram capturadas pelo vilão da história.

As similaridades não param por aí. Esta foi a primeira vez que o Doctor usou uma moto depois de Idiot’s Lantern (mas foi a primeiríssima vez que ela tinha anti-gravidade, ora). E também vale ressaltar que sua preocupação sobre não gostar de levar a Tardis para a batalha, por medo dela cair em mãos erradas, também foi expressa pelo Ninth no 1×13, The Parting of the Ways.

Sobre Clara, The Woman Twice Dead, gostei de ver que DW está investindo numa Companion inteligente. Aliás, ao meu ver, a cada Companion parece que o nível de inteligência foi aumentando, culminando com Oswin que, como Moffat afirmou, consegue seguir o raciocínio do Time Lord agilmente, o que a deixa até um pouco entediada, e sabe tudo de computadores… ainda que este conhecimento tenha vindo de uma forma não muito convencional.

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Confesso que não sei, ou ainda não imagino, onde está a lógica para a existência de Clara em tempos distintos. O que dá para ver é que ela não tem as memórias das outras versões que o Doctor conheceu, mas tem as características de personalidade e até profissão. Todas as três Claras são impetuosas, querem conhecer o mundo, e falam sem pensar muito (ou nada) antes, como é o caso da primeira que apelidou o Doctor de “chin boy” e da segunda que chamou a Tardis de “cabine de amassos”. E tirando a que se descobriu um Dalek, as outras duas são babás e têm um carinho verdadeiro pelas crianças que cuida.

Nesta “zona” de coincidências e linhas temporais, a gente lembra de River Song… a personagem que mais bagunçou a cabeça dos whovians. Imagino que Steven, depois de conseguir criar uma história cheia de voltas e twists — e lógica! –, queira criar uma com mais voltas e twists ainda. Haja neurônio para conseguir decifrar o que este homem quer mostrar.

Oswin se assemelhou um pouco com Donna pela sua “resistência” ao charme da Tardis. Toda vez que o Doctor encontra uma nova Companion, ele a chama para viajar com ele para qualquer lugar do tempo e do universo, e logo a moça se rende aos encantos do convite largando vestido de noiva e tudo para trás. Não foi o caso de Donna e nem de Clara, e esta última ainda se fez de difícil dizendo para o Doctor voltar e  insistir…

Quanto à forma como os dois se relacionam, é mesmo como Jenna Louise Coleman afirmou: “eles ficam flertando um com o outro”, “às vezes é quase uma relação irmão-irmã”, “ele é como um pai, um filho, um irmão e um tipo de namorado paquerador”. É, basicamente, o mesmo tipo de relação com a Amy. No começo eles estão desacostumados um com o outro, como vimos em The Bells of Saint John. Eles não sabem que tipo de reação vão receber e, especialmente o Doctor, ser surpreendido vira quase uma rotina.

Vou confessar para vocês que eu ainda preferia que a parte do flerte e do namorado paquerador ficasse de fora, e uma relação mais na base da amizade e cumplicidade, como era a de Donna, fosse priorizada. Mas vamos esperar a volta de River para vermos em que pé ficará esta parte do relacionamento deles, lembrando que Steven já avisou que o “triângulo amoroso” não será como imaginamos.

Uma coisa que penso em relação à River é que, em The Snowmen, quando vemos a Tardis diferente da de The Angels Take Manhattan, é perceptível que algum tempo se passou, que algo além do que vimos em Angels já aconteceu. Tenho a impressão de que naquele momento o Doctor já se despediu de todos os Pond, incluindo Melody. Penso assim porque além de sua terrível tristeza, em nenhum momento ele menciona a esposa, nem mesmo quando Clara tasca um beijo nele. Mas isso pode também ser só coisa da minha cabeça.

Em relação ao enredo deste episódio, quero destacar dois detalhes que merecem atenção: a ambientação com ênfase na “realidade”, e a continuação da presença da Great Intelligence com a imagem de Walter Simeon, mesmo depois de mais de um século dela ter tomado a forma dele.

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É muito bom ver um episódio percorrer as ruas de Londres, citar as redes sociais, ver o Doctor interagindo com tecnologia, dando uma de hacker (modestíssimo), e mudando o mundo com suas habilidades computacionais. Isso já vimos em The Eleventh Hour e, diferente da era Russel, é constante Moffat voltar a usar este recurso. Dá uma ideia, ainda que absurda, que tudo aquilo pode realmente ser de verdade.

A continuação da Great Intelligente como vilã foi uma surpresa boa de ver. Isso quer dizer que o que vimos em The Snowmen de fato não acabou, e que ainda veremos um embate final entre o Doctor e possivelmente a figura de Simeon. Além disso, o fato de, no final, as mentes terem voltado aos seus “donos originais” não significou (novamente) a derrota de Walter. A fala final dele, “eu me alimentei de muitas mentes e cresci”, indica que seu objetivo foi alcançado apesar da interferência do Doctor.

Depois do retorno das mentes aos seus donos, nos deparamos com os funcionários da Shard sem saber o que estavam fazendo e porque estavam sendo detidos pela UNIT. Srta. Kizlet, por exemplo, era criança quando foi “raptada” pela Grande Inteligência, e aqui podemos lembrar um pouquinho de Melody Pond, que foi raptada e criada pelo Silence.

O título “The Bells of Saint John” fez referência ao toque do telefone da Tardis que, ora, ora, não é um telefone que deve tocar. Saint John, no caso, se refere ao logo da St John Ambulance, que existe na porta da caixa azul. A mulher que deu o telefone proibido para Clara deve ser, com 101% de chance de acerto, River Song. Quem além dela tem o costume de “importunar” o Doctor justamente pelos meios que ele não gosta?

Por último, e não poderíamos jamais deixar de citar isso, o livro “Summer Falls”, de Amelia Williams, apareceu em Bells. Olha que coisa linda! E mais linda ainda foi a fala que se seguiu ao livro, cheia de segundas intenções by Steven Moffat (ingênuo é que ele não é… ou é?):

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Clara: What chapter are you on?

Artie: Ten. 

Clara: 11 is the best.

The Bells of Saint John foi, então, um episódio cheio de detalhes, indicações, possibilidades de caminhos para o futuro de Doctor Who. Uma nova era se inicia, apesar de nossos corações ainda estarem partidos em mil pedacinhos. A série, por sua vez, não se esquece da nossa saudade pelos Pond e faz questão de mostrar isso (viram que o Doctor usou os óculos de leitura da Amy?). E Clara, mais do que suas antecessoras até, chegou esbanjando riqueza para a mitologia do universo Who. O problema é que DW mal voltou e só faltam seis episódios para o final da sétima temporada. Depois teremos o Especial de 50 Anos (com DT!) e sabe-se lá quando sentiremos o gostinho de episódio inédito outra vez.

Whovian é um bicho que sofre, viu.

 

Observações:

– O mistério da temporada: “Run, you clever boy, and remember”, do que o Doctor terá que se lembrar?

– Bem que aquela tecnologia de aumentar as características do indivíduo pela tela do tablet podia ser real, né? Inteligência pra ficar rica no máximo, por favor.

– Quando o fez apareceu, achei que ele ia “ficar” até o final do episódio. Mas pelo visto o Doctor superou o pobrezinho de vez.

– Lembram que pouco tempo atrás Moffat excluiu sua conta do Twitter? Que coincidência ter piada do Twitter agora então, né gente.

– O timeywimeyness.tumblr.com fez uma ótima sequência de GIFs mostrando os paralelos entre The Idiot’s Lantern com The Bells of St. John:

 

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