Que todos nós somos muito fãs de Doctor Who, é óbvio. Mas o fato é que, depois que começamos a ver um programa como esse, depois daquele momento inicial de “olha, isso é bem legal”, geralmente chega um episódio tão fantástico que transforma nossa relação com a série em algo tipo: “Caramba, isso é sensacional! Vou torná-lo parte da minha vida e aborrecer meus amigos com referências que eles não vão entender”. Pra mim, esse momento aconteceu com The Empty Child, na primeira temporada da série nova, mas tenho certeza que, se eu tivesse começado a assistir Doctor Who pela série clássica, seria com The Space Museum.
O que eu mais gosto nessa história é que é a primeira vez em que o enredo explora verdadeiramente a complexidade que envolve a viagem no tempo. Embora outros episódios já tenham mostrado como o mecanismo da TARDIS é complexo e que as coisas podem sair bem erradas se ele não funcionar direito (como em Planet of Giants), dessa vez, temos reflexões sobre as dimensões do tempo e quanto podemos mudar daquilo que vai acontecer (ou será que já aconteceu?) no futuro.
O enredo começa na TARDIS, quando a turma percebe que as roupas que estavam usando (da época das cruzadas, referentes ao arco anterior) de repente “viraram” vestimentas contemporâneas, sem que ninguém lembrasse quando as trocou. Isso já é bem estranho, mas por alguma razão que não fica muito clara, o Doctor ignora o acontecimento. Pouco depois, Vicki deixa cair um copo e ele quebra, mas imediatamente se refaz e volta à sua mão, o que todos também parecem ignorar quando ela conta. Então eles descobrem que chegaram ao planeta Xeros e que ali funciona um museu. Mas as coisas começam a ficar ainda mais estranhas quando eles percebem que não conseguem tocar nada do que existe lá, e ainda que as pessoas de lá não os veem ou escutam.
Pra aguçar de vez nossa curiosidade, eles encontram uma sala do museu em que os corpos dos quatro estão expostos em redomas de vidro, como uma peça da coleção – o que é bem bizarro. E é aí que entra o grande lance da história, introduzido por uma fala em que Vicki mostra um pouco mais de sua educação de garota do século XXV: “o tempo, assim como o espaço, apesar de ser uma dimensão por si só, também tem dimensões próprias”. A explicação é de que eles não estão realmente ali, mas nas redomas de vidro (por isso não conseguem tocar em nada), em um futuro que, de alguma maneira, os levou àquela situação. Eles estão “na quarta dimensão”, porque a TARDIS pulou um curso no tempo e parou lá. Resumindo, ou falando a nossa língua: eles estão vendo um pedaço do futuro e precisam esperar até que eles cheguem de verdade naquele tempo/lugar para tentar evitar que acabem daquela forma.
Pouco depois, eles começam a se sentir estranhos e é como se as duas dimensões do tempo se encontrassem. Então eles não estão mais na redoma, mas de fato onde estavam (sim, é bem louco, e reconheço que descrevendo parece mais louco do que assistindo). O desafio agora é agir de maneira diferente do que os teria levado àquele final. Mas como saber o que teria acontecido para eles chegarem naquela situação? E se, tentando escapar, eles estiverem apenas repetindo os padrões que os levaram a virar peças no museu?
Assim segue a trama, que conta ainda com um plano de fundo em que Xeros foi dominado pelos Moroks, que transformaram o planeta em um museu em memória das conquistas de sua civilização. Tentando lutar contra os conquistadores, estão os poucos xenons (nativos) que permaneceram no lugar, poupados quando criança para se tornarem escravos e agora adolescentes tentando uma revolução. Entre as tentativas de fugir dos Moroks, que realmente querem congelá-los e coloca-los no museu, vemos mais uma vez Ian (sozinho), Bárbara e Vicki tomarem a dianteira da ação no arco. Com as duas mulheres se unindo aos xerons em sua luta.
O arco foi escrito por Glyn Jones, que não escreveu nenhuma outra história para a série, mas participou como ator no arco The Sontaran Experiment (1975). The Space Museum é uma das histórias com maior elenco na era do primeiro Doctor, contando com 20 atores creditados. A ousadia do enredo (um dos mais científicos dessa fase do programa) não parece ter agradado muito o público da época, visto que, enquanto o primeiro episódio teve uma audiência de 10.5 milhões, o segundo marcou apenas 8,5 milhões de espectadores. Já para quem está acostumado com as reviravoltas mirabolantes da era Moffat, a história é uma agradável surpresa, misturando a ciência com uma atmosfera de ação e de mistério que se sustenta em toda a trama e não deixa a monotonia tomar conta de nenhum episódio.
Enfim, tem muito mais coisas que poderíamos dizer sobre esse arco, mas o texto já está enorme. Então pega sua carteirinha de whovian-nerd-que-adora-coisas-malucas e vem descobrir essa aventura clicando aqui.
Jornalista apaixonada por histórias e personagens fictícios, principalmente se eles viajarem pelo espaço a bordo de uma cabine azul.