Feliz 2019 rubianzada!
A galera do Universo Who está de férias e/ou ressaca de Ano Novo e pediu pra que eu escrevesse a resenha de Resolution para vocês. Bora lá?
A essa altura vocês já assistiram a 11ª temporada e basicamente se dividiram em dois grandes grupos:
- Os que abandonaram a temporada sob a alegação de ser muito “politicamente correta”;
- Os que continuaram até o episódio 10 e fizeram uma lista de reclamações sobre a temporada.
Para o primeiro grupo, meu mais sincero “já vai tarde”. Se tem uma coisa que Doctor Who sempre teve, em 55 anos, foi crítica social – se vocês não perceberam isso, estavam assistindo a série de forma errada.
Para o segundo grupo, no qual eu me incluo, meus parabéns! Esse episódio é para nós.
Lista na mão, vamos às 5 maiores reclamações dos fãs durante a 11ª temporada:
Ambientação da história
Muita gente reclamou de que os episódios da 11ª temporada simplesmente começavam, sem nenhuma explicação. A gritaria pela volta da cena pré-créditos veio de todos os cantos.
Em Resolution nós não tivemos do que reclamar: a cena de abertura, explicando a história como se fosse um conto de fadas, foi sensacional, muito bem escrita, e foi o fio condutor do plot principal.
Tá liberado reclamar que não teve DOWEEDOO? Tá. Mas em algum lugar da cabeça do Chibnall existe uma lógica em não ter DOWEEDOO em episódio de uma hora.
Fato curioso: tanto as cenas na Ilha Anuta quanto as da Sibéria foram gravadas no mesmo lugar – uma praia em Gales. Para as cenas da Sibéria eles simplesmente jogaram neve falsa na areia. Pessoal da produção ganha várias estrelinhas pelo ótimo trabalho.
A Tardis
Ah, a Tardis, a única companheira do/a Doutor/a e, para alguns, a verdadeira protagonista dessa série – afinal, não existe Doutor/a sem Tardis, mas existe Tardis sem Doutor/a (oi River!).
Muita gente reclamou que a Tardis não aparecia e que tinha virado um mero meio de transporte.
Chimbinha atendeu a sua prece e colocou 1/3 do episódio se passando dentro da Tardis. E teve de tudo: o sensor de treta avisando do perigo na Terra, análise do material genético do Dalek no console central, alavanquinhas saindo remédio para Lin depois dela ter sido “despossuída” pelo Dalek, console travando e rebootando, o telão da parede reaparecendo, hack das câmeras de trânsito, materialização no meio da sala, turbulência com companion sendo jogado longe…
O interior da Tardis continua feio? Sim – só se salvam as paredes; aquele rotor parece um dildo e a iluminação amarela me dá dor de cabeça. Mas a Tardis é parte importante da série e realmente precisava ser mais valorizada.
Tiro, porrada e bomba
Um dos maiores choques de narrativa dessa nova era Chibnall foi justamente o fim dos roteiros megalomaníacos e cheios de ação que a era Moffat tinha de tão marcante, e a troca por enredos mais históricos e nem tão rocambolescos. Tanto que um movimento “volta Moffat” começou a ser arquitetado por fãs ao redor do mundo.
(Pra mim, vocês são tudo doido, mas essa sou eu que não gosto do Moffat showrunner – mas esse assunto fica pra outro dia).
Em Resolution, Chibnall incorporou Moffat em seus melhores dias de roteirista (mais sobre isso adiante) e nos deu cenas de ação ótimas.
Primeiro com Lin-possuída correndo a 130 km/h na estrada e se deparando com os policiais (e que trilha de Segun Akinola ao fundo, gzuiz!); a invasão do depósito da MDZ; depois, com o Dalek sozinho enfrentando/dizimando a tropa – incluindo um tanque de guerra; e por fim com a 13ª desviando de tiro de Dalek de tudo quanto era jeito – e aquela deslizada foi sensacional!
O roteiro
Tirando Rosa (que foi coescrito pela Malorie Blackman), os roteiros de Chris Chibnall nunca foram memoráveis. Ele sabe criar bons personagens secundários (o pai do Rory na 7ª temporada, por exemplo), mas acaba caindo no final, deixando o espectador com a sensação de que alguma cena foi cortada na edição e acabou fazendo falta (vide Arachnids In The UK).
Não dá pra reclamar de Resolution. Roteiro redondo, com um plot principal muito bem contado (a Order Of The Custodians foi uma ideia primorosa – e toda a parte gráfica ligada a ela foi de tirar o chapéu) e um plot secundário que encerrou a história de Ryan e Graham com o aparecimento do pai, Aaron.
Aliás, sobre isso: as duas cenas mais sérias desse episódio são justamente a conversa do Ryan com o pai no café, onde Tosin Cole mostrou de modo convincente a emoção de um rapaz de 19 anos que viveu coisa demais em pouco tempo; e a conversa do Graham com o Aaron na sala de casa, deixando bem claro que o mote da 11ª temporada era o luto e as suas consequências.
Por outro lado, algumas cenas muito engraçadas – minha predileta foi a do “estamos sem wi-fi, o que vamos fazer agora?”, em que a minha resposta enquanto assistia foi um automático “conversem entre si” e que mostrou as consequências da ação do Dalek na Terra, coisa que eu senti falta em The Battle of Ranskoor Av Kolos quando Tim Shaw começa a encolher o planeta. E outras de suspense hide behind the sofa, quando o Dalek possui Lin e Aaron. E tivemos, ainda, o aspecto educacional, quando a Doutora explica como eles derreteram a armadura do Dalek.
Os velhos conhecidos
A falta de elementos clássicos da série deixou muita gente de pé atrás com a 11ª temporada.
Por um lado, eu entendi o que o Chibnall quis fazer: quando você não coloca os elementos clássicos, você foca no público que está chegando agora. Lembrem-se que essa era uma temporada que buscava trazer novas audiências para série; muitos que não assistiam porque se assustavam ou não se interessavam em buscar as 10 temporadas anteriores. Além disso, tem o ego de querer dar a sua própria contribuição para a mitologia da série.
Fato é, foi justamente essa falta dos elementos clássicos que afastou muitos fãs da 11ª temporada.
Mas não tema, porque Chimba sabia que isso ia acontecer e se redimiu, não só trazendo os Daleks de volta, como criando uma nova categoria, os Reconnaissance Daleks, ou simplesmente Recon.
E que coisa maravilhosa é ouvir Nicholas Briggs novamente falando EX-TER-MI-NA-TE – e que trabalho divino de som com a voz do Dalek fora da armadura (que risada foi aquela?).
Todo o confronto Doutora/Dalek foi do caral##: a cena dela invocando a Lin-possuída prum cara-a-cara dentro da Tardis; depois, dentro do ferro-velho, com o Dalek já com a armadura, a 13ª mandando escanear e soltando aquele “I’m the Doctor. Ringing any bells?” e ele dando aquele “passinho” pra trás – gente, eu dei um pulo de felicidade que a última vez que isso tinha acontecido foi quando o 12tº escorraçou o Rassilon de Gallifrey em Hell Bent. Ela enfrentando o Recon no GCHQ, numa cena que me lembrou muito o começo de The Parting of the Ways; e, por fim, ela enganando o bicho e jogando ele numa supernova.
Palmas para a direção do Wayne Yip, especialmente nas cenas em que vemos a Doutora pelo ponto de vista do Dalek, com direito a glitch no sistema e tudo.
Mas nem só de Dalek vive Doctor Who. Tivemos a Doutora ligando e pedindo ajuda a Kate Stewart e à UNIT – e descobrindo que a organização está temporariamente fechada por falta de financiamento (sim, o Brexit afetou a UNIT).
*Pausa para uma observação: se a UNIT não estava disponível, por que a Doutora não pediu para transferirem a chamada pra Torchwood? Nem precisava trazer o Jack de volta: bastava uma mensagem na secretária eletrônica falando que no momento não podia atender. Já que tava rolando um fanservice, custava nada fazer mais um*.
Relacionado a isso, tivemos o melhor easter egg dos últimos tempos: na cena em que o Dalek força Lin a hackear os sistemas de informação da MDZ, aparece o sistema do Black Archive – e é por isso que Recon invade os cofres e retoma algumas de suas armas.
Também temos a Doutora sendo um pouco mais badass. Muita gente não gosta da 13ª tendo uma personalidade mais pacífica. Eu gosto, mostra a evolução da personagem, sendo ela a primeira regeneração efetivamente sem o peso da destruição de Gallifrey nas costas, permitindo que ela seja mais leve.
Deu pra perceber que eu adorei Resolution. Vi algumas pessoas metendo o pau no episódio nos grupos do Facebook e no Twitter – um inclusive disse que dormiu no meio (O.o). Mas a grande maioria gostou e tem a esperança que a 12ª temporada seja nesse ritmo.
Agora com os personagens estabelecidos, e a entrevista mais recente de Chibnall revelou que teremos, sim, antigos vilões e que Yaz vai ter uma atenção especial, com um plot próprio, na próxima temporada, só nos resta esperar 2020 – segundo informações, a nova temporada deve ser exibida logo no começo do próximo ano.
E como Resolution foi gravado junto a temporada regular, no último bloco, a impressão que fica é que sim, a 12ª temporada vai ter esse ritmo e que Chimbinha estava de caso pensado esse tempo todo.
Vou ficando por aqui. A vocês, um ótimo ano, e aproveitem o hiato para assistir série clássica, ouvir ous audiodramas da Big Finish ou ler as HQs e os livros. Tem muito material a ser consumido sobre a nossa amada série da navinha.
Beijos e até a próxima!