Review: A Town Called Mercy

Por Camila Picheth

Steven Moffat não estava brincando quando disse que essa temporada seria construída a partir de episódios independentes. O lado positivo é que a série fica mais dinâmica, fazendo com que você possa acompanhar as histórias sem uma regra. O lado negativo é que tramas como a “separação” dos Ponds ficam perdidas na narrativa. Embora Dinosaurs on a Spaceship tenha sido um episódio divertido, fiquei preocupada se Doctor Who se transformaria num seriado cheio de histórias legais, mas com um arco geral fraco. No entanto, em A Town Called Mercy, tivemos o retorno de um aspecto antigo da personalidade do Doctor, reforçando a necessidade de uma companion viajando com ele.

De cara esse episódio tinha tudo para ser um dos melhores da temporada: um ambiente western, um alien Terminator, o Doctor fazendo um Stetson revival e uma participação do fantástico Ben Brownder (hell yeah Farscape!). Para melhorar ainda mais esse cenário, foi possível enxergar novamente um pedaço da personalidade do Doctor que raramente vemos. Desde que a série voltou em 2005, a parte sombria do protagonista sempre esteve presente. Mas é somente quando ele viaja sozinho por muito tempo que esse aspecto começa a tomar conta. Muitas raças o veem como uma grande ameaça, e eles estão certos. Com todo o poder que o Doctor possui, ele poderia fazer o que bem entendesse com o universo, o que traria consequências negativas gigantes. Foi isso que vimos em The Water of Mars (2009) e The Runaway Bride (2006); minutos que seu ego dominou seu bom senso e agiu pensando apenas nele. O resultado de ambas situações foi contornado, mas poderia ter sido bem pior para atimeline universal e para ele mesmo. Quando o Doctor resolve entregar Jex para o Gunslinger, isso poderia ter o transformado para sempre, fortalecendo demais sua sombra. Afinal de contas, o que é mais assustador que o Doctor segurando uma arma? No entanto, Amy cumpriu seu papel como companion, e o trouxe para o lado sensato. Ficou claro que o Doctor não viaja acompanhado apenas por diversão, mas por uma questão de segurança. E é nessa narrativa que a troca de companions começa a ficar evidente: o Doctor precisa de alguém ao seu lado, mas os Ponds não podem mais o acompanhar.

A história fica ainda mais interessante quando analisamos quem é o vilão do episódio. Seria o cientista louco que cometeu atrocidades por razões supostamente altruístas e que está se esforçando para ter redenção? Ou seria a vítima de experimentos que está matando aqueles que o feriram? O episódio substitui essa resposta por uma ação: misericórdia. Até então eu concordo com a moral da trama, mas o final estragou a “lição do dia”. O Doctor levou em consideração o desejo de Jex para ser uma pessoa melhor, mas disse que não cabia a ele escolher como e onde se redimir. Mas foi exatamente isso que ele fez no final. Ele escolheu que iria morrer ali numa explosão, tomando o caminho mais fácil e nada digno.

Mesmo assim gostei muito do episódio. É difícil estragar uma trama que se passa num cenário de filmes de bang-bang, e a presença do xerife boa índole vs o exterminador vingativo serviu para solidificar a história. Amy teve um real propósito, algo que não se via desde a 5ª temporada. Agora nos resta esperar pelo Poder dos Três, e ver se os Ponds conseguem fazer a escolha entre o mundo fantástico do Doutor e a vida real.

Nos acompanhe e curta nosso conteúdo!