Review: Wild Blue Yonder

Se eu ganhasse 1 centavo para cada aventura de Doctor Who sob o comando de Russell T Davies onde o Doutor fica preso em um ambiente ligeiramente hostil e é perseguido por algum tipo de criatura que usa de formas criativas para tentar escapar, eu teria, pelo menos, 4 centavos – o que pode não parecer muita coisa, mas é curioso que tenha acontecido em torno de quatro vezes: The Satan Pit (2006), Midnight (2008), The Waters Of Mars (2009) e, finalmente, Wild Blue Yonder (2023).

Wild Blue Yonder (A Imensidão Azul) é o segundo dos três episódios especiais em comemoração ao sexagenário da série. Nele, a TARDIS perde o controle e leva o Doutor e Donna para o limite mais extremo da aventura. Para fugir, eles precisam entrar numa luta desesperada com o destino do universo em jogo.

Se você não assistiu o episódio, aconselho assistir e voltar depois, pois essa não é uma review livre de spoilers e alguns pontos do enredo serão discutidos.

A aventura retoma diretamente após os acontecimentos de Star Beast, com Doutor e Donna enfrentando as consequências de uma caneca de café derramada no console da TARDIS. Nesse descontrole, somos brevemente apresentados a Isaac Newton e, como descobrimos, Doutor-Donna deram um leve empurrãozinho, e aqui eu não me desculpo pela piada, para que Isaac Newton chegasse ao conceito de gravidade.

Logo após esse evento, a TARDIS se materializa no limite do espaço, em um ponto tão extremo que não é possível ver mais estrelas, dado o quão distantes do centro do universo que eles estão. O que, a princípio, soa inofensivo já que os dois parecem estar estão sozinhos numa nave gigantesca. Isso, claro, se não fosse a TARDIS acionando automaticamente um mecanismo de defesa que faz com que ela saia dali o mais rápido possível, pois existe algum perigo eminente à espreita.

Enquanto investigam uma forma para recuperar a TARDIS, descobrimos que essa nave, previamente tripulada, detém duas criaturas que tentam emular a existência dos seus habitantes para que, com isso, consigam chegar ao universo conhecido; um conceito que lembra bastante a aventura apresentada em Midnight da quarta temporada, exceto que, em Midnight, nunca temos certeza sobre qual era a real intenção da criatura, enquanto em Wild Blue Yonder, sabemos que as cópias de Doutor e Donna seriam agentes do caos perigosos.

Talvez por Midnight ser não só um dos meus episódios favoritos da dupla, como também um dos meus episódios favoritos de toda a série, não tive como me conter e não traçar comparações e, se estivesse sob a mira de uma arma e tivesse que escolher entre os dois, provavelmente terminaria escolhendo o episódio de 2008. Apesar de que, (e aqui sou obrigado a admitir e até confessar que, na minha opinião) esse é o grande trunfo do especial: com Doutor e Donna presos na nave de Wild Blue Yonder, o plot do episódio todo é quase secundário e temos o foco principal na relação de amizade entre os dois. Desse modo, temos um gostinho de como é estar reunido com seu melhor amigo depois de passar muito tempo sem nenhum contato.

A situação toda, de estarem presos numa espaço-nave, mesmo que recorrente para os dois, apresenta fatores diferentes. O que podemos notar dessa vez é que, nesses últimos 15 anos, algumas das prioridades de Donna mudaram e ela não é mais tão inconsequente como costumava ser. Embora viajar com o Doutor continue sendo magnífico, ela agora tem outras prioridades muito bem definidas, uma delas sendo como retornar para casa e, mais especificamente, para sua filha Rose.

Ainda na construção dos personagens, foi gratificante ver a última interação entre Donna e Doutor, ainda que o último ainda esteja um tanto apreensivo. Como assistimos em The Star Beast, e de novo em Wild Blue Yonder, o Décimo Quarto Doutor é uma encarnação muito mais transparente quanto aos seus sentimentos e não deixa seus anseios em segredo.

Mais uma vez vale ressaltar a química existente entre Tennant e Tate: os dois, sozinhos em cena por cerca de 56 minutos, deram conta de carregar a história sem que a trama ficasse demasiadamente arrastada.

Após vencerem por pouco as cópias num jogo de detetive com muita ação e escapadas no último segundo, nossa dupla volta para a Terra e somos presentados com a aparição surpresa de Wilf, que não só continua sendo um pilar de conforto para a série moderna, como nos dá uma prévia do que esperar para o último episódio na trilogia dos especiais de 2023.

Nos vemos por aí no tempo e espaço. Até a próxima.

Escrito por: Gustavo França.

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