Finalmente temos o especial de Ano Novo de Doctor Who. Confira aqui nossa review de Revolution of the Daleks, mas cuidado: SPOILERS!
O tão aguardado 2021 chegou e trouxe com ele Revolution of the Daleks, especial de ano novo de Doctor Who. Trazendo a amplamente divulgada participação do Capitão Jack Harkness (John Barrowman) e algumas surpresas, o episódio conseguiu, de forma geral, agradar o público, que ansiava por respostas sobre a prisão da Doutora.
E já que estes eram os dois principais temas comentados antes do episódio sair, vamos começar por eles mesmo. O visual da prisão, as cenas da rotina da Doutora na cela e, principalmente, os outros presos formaram uma sequência realmente boa de assistir. Assim como a aparição do Capitão Jack, como o amigo devotado que passou 19 anos ali só para encontrar uma oportunidade de livrar da cadeia alguém que já fez tanto por ele e por todo o Universo.
A inclusão de Jack nessa história vai muito além de uma forma de agradar o público. Diversas histórias nas temporadas do 10º Doutor mostravam como a relação entre eles era algo que perpassava séculos, uma amizade genuína. Assim, faz todo o sentido que ele retorne no momento em que a Doutora mais precisa de alguém próximo e ousado o suficiente para arquitetar uma fuga.
A fuga em si é que poderia ter sido um pouco mais emocionante. Para um lugar de segurança máxima, não ter um guarda ou outro dispositivo qualquer para tentar impedir os fugitivos foi um pouco decepcionante. Assim como quem esperava saber mais sobre os motivos da prisão da Doutora também teve que se contentar com uma explicação simplória. E o questionamento que fica para a 13ª temporada é se os Judoon vão simplesmente deixar essa história para lá ou se eles continuarão a perseguir a protagonista.
Voltando ao Capitão Jack, ele aparece com um comportamento um pouco mais moderado que o habitual, mas sem perder a essência cômica. Além de uma ótima química com a Doutora, o personagem teve trocas interessantes com os companions, principalmente com Yaz, com quem tem uma conversa franca sobre ser deixado pela Doutora.
O que a gente não esperava é que Revolution of The Daleks fosse também uma continuação de Resolution, especial de ano novo de 2019. A conexão entre os dois episódios funcionou muito bem e reforçou a sensação de que não era apenas na vida Doutora que as coisas estavam acontecendo esse tempo todo. Enquanto ela e os companions vivam tudo o que vimos na última temporada, por aqui, a humanidade também caminhava, inclusive usando restos de uma aventura passada do time TARDIS.
Que “fam” é essa?
Por falar nos amigos da Doutora, chegamos ao que vem sendo um ponto problemático desde o início da era Chibnall. Yaz, Ryan e Graham estão sozinhos no início do episódio, sem saber onde a Doutora pode estar e tomando conhecimento sobre a nova ameaça Dalek à Terra. E se alguém esperava que essa situação fosse dar mais espaço para o desenvolvimento dos personagens, não foi exatamente assim.
Mesmo tomando algumas iniciativas para resolver o problema sem a Senhora do Tempo, os companions não ganharam nenhum destaque no episódio. E quando ela apareceu, a forma como eles reagiram a seu sumiço de 10 meses não agradou o público. Empurrar a coleguinha que acabou de te dizer que estava presa não é uma recepção aceitável, Yaz! A conversa entre Ryan e a Doutora foi um dos poucos momentos que mostram maior aproximação entre ela e o grupo de companions. Já Graham passa quase despercebido durante boa parte do especial, o que é uma pena, visto que ele era o favorito de muitos fãs.
E a Doutora? Descobrir que boa parte do seu passado foi uma mentira e, logo em seguida, passar décadas na prisão é o suficiente para deixar alguém abalado. Mesmo sem perder o ânimo para livrar a Terra dos Daleks, fica claro que a Senhora do Tempo andava bem perdida sobre quem ela é. E o fato de que ela encontra essa resposta lutando contra seus arqui-inimigos é também um recado sobre a própria série. Independente das reviravoltas que Timeless Children tenha causado, a essência de Doctor Who continua a mesma.
Surpresas e referências
Revolution of the Daleks também deu alguns presentes inesperados para os fãs. E um deles não foi só para os whovians, mas também para os potterheads. Ouvir a doutora recitando a primeira linha de Harry Potter e a Pedra Filosofal antes de dormir aqueceu o coração do jovem que tem uma TARDIS na estante ao lado da coleção de livros do bruxinho mais amado do mundo.
Outras referências fizeram menção a personagens antigos do universo de Doctor Who. E é claro que uma delas tinha que ser a loira que ganhou o coração do Doutor nas duas primeiras temporadas da série moderna. Ouvir o Capitão Jack contar o destino de Rose Tyler deu um susto na Yaz e chamou a atenção do público. Quem também ganhou uma menção no especial foi Gwen Cooper. Ela foi parceira de Jack em Torchwood e também apareceu nos episódios The Stolen Earth e Journey’s End, da quarta temporada.
Política sim
Se você faz parte daquela fração do fandom que acha que não se deve misturar Doctor Who com política, desculpe, mas como já foi dito num artigo traduzido por aqui, Doctor Who é político. E é impossível ignorar isso em Revolution of the Daleks. Da sede de poder da personagem interpretada por Harriet Walter até a ambição de Jack Robertson (Chris Noth), tudo nos leva a pensar no mundo real. É uma representação de como pessoas e grupos em posição de poder tomam decisões que prejudicam o planeta todo para alcançarem seus objetivos.
Não é à toa que os tais drones/daleks são demonstrados primeiro como uma forma de reprimir protestos e reforçar fronteiras. É bom lembrar também que a primeira pessoa que esses eles matam no controle de imigração é uma mulher negra. O discurso que a primeira-ministra usa ao apresentar as novas armas também é cheio de temas que são usados por políticos da extrema-direita no Reino Unido, no Brasil, nos Estados Unidos e em diversos outros locais. Se não conseguiu prestar atenção no que ela disse, volta lá no episódio e você vai perceber os argumentos nacionalistas e xenófobos. Aliás essa estratégia de apelar pelas preocupações da população com segurança também é muito usada por esses grupos.
E os Daleks mostraram de forma muito clara sua origem inspirada nos nazistas. O ideal de raça pura que faz com que eles exterminem os Daleks criados na Terra é uma representação da ideologia de pureza racial difundida pelo Nazismo.
Despedidas
O especial também foi o último episódio de Graham e Ryan como companions da Doutora. Para quem já estava acostumado com saídas trágicas, a despedida dos dois foi bem tranquila. Aliás, é apenas a segunda vez, desde 2005, em que companions fixos conseguem dizer tchau à Doutora por vontade própria, sem uma situação de grande risco envolvida. Antes deles, apenas Martha Jones conseguiu este feito (na série atual).
É uma pena que os roteiros não tenham conseguido mostrar um bom desenvolvimento desses personagens. Graham, principalmente, tinha um grande potencial e, apesar de tudo, conseguiu conquistar muitos fãs. Pelo menos, foi bonito ver a evolução da relação entre os dois. E quem não se emocionou com a aparição de Grace?
O destino de Graham e Ryan também lembrou um pouco a história de Martha e de Mickey Smith, que escolheram proteger a Terra por conta própria depois de seus momentos com o Doutor. Esse desfecho foi mais um dos elementos que deram ao especial de Ano Novo uma aura um tanto nostálgica. Mesmo com o estilo próprio de Chibnall, o episódio lembrou a era Russell T Davies, seja pela presença do Capitão Jack ou pelas cenas dos Daleks perseguindo humanos nas ruas, que também lembraram bastante os dois últimos episódios da quarta temporada de Doctor Who.
Agora, resta esperar para ver a nova dinâmica na TARDIS, com a Doutora, a Yaz e o novo companion, Dan, anunciado logo após o especial. O novo personagem será interpretado pelo comediante John Bishop.
Jornalista apaixonada por histórias e personagens fictícios, principalmente se eles viajarem pelo espaço a bordo de uma cabine azul.