[Psiu, olha o spoiler!]
“Os anjos pegaram a cabine telefônica”
E se alguém juntasse The Angels Take Manhattan e Hide pra fazer uma nova história? A gente não sabe se foi assim que começou a ideia de Village Of The Angels, mas bem que poderia. O episódio, que muitos consideram como um dos melhores da 13ª temporada, mistura adrenalina e mistério para trazer fortes emoções do início ao fim.
Continuando um dos maiores cliffhangers da temporada, a história já começa com um anjo lamentador dentro da Tardis, junto com a Doutora e os companions, e tomando o controle da nave. A situação é gravíssima, não apenas porque, o que antes parecia o lugar mais seguro do tempo e espaço, de repente não parece mais tão seguro assim, mas também porque é a nave mais poderosa do Universo caindo nas mãos de alguém que certamente está mal intencionado.
Mas ninguém conhece a Tardis melhor que a Doutora, então é claro que ela tem um truque para expulsar o invasor. O problema é que isso faz com que a nave seja reiniciada e todo mundo tem que sair, seja lá onde o anjo tenha pousado. Assim começa a história, que se passa em uma vila inglesa nos anos de 1967 e 1901.
Unindo elementos como criança desaparecida, estudo científico com vidente e invasão alienígena, Village of the Angels entrega algumas das coisas que a gente mais gosta de ver em Doctor Who: aventura, medo e grandes reviravoltas. Além disso, a história tem um papel muito importante na temporada, dando passos decisivos para mostrar mais sobre o passado da Doutora e a tal Division.
O episódio também traz para a temporada dois personagens que vão se somar à Doutora na luta para salvar o Universo do Fluxo: Jericho e Claire. Ela já tinha sido mostrada num diálogo rápido com a Doutora no primeiro episódio da temporada, quando logo depois, é atacada por um anjo. Uma fala desse primeiro encontro chegou a suscitar em alguns fãs a ideia de que ela teria ligação com Clara Oswald, mas o novo episódio se afasta dessa ideia.
No entanto, a forma como Clair abordou a Doutora naquela ocasião também lembrou outra pessoa do passado da série, e essa sim já dava dicas sobre a história da nova personagem. Aquele primeiro e confuso momento, quando Claire disse que elas não se conheciam, mas iriam se conhecer no passado, já tinha ares do encontro entre a saudosa Sally Sparrow e o 10º Doutor no final de Blink, história que nos apresentou os anjos.
Já o professor Eustacius Jericho foi uma surpresa. O simpático e corajoso cientista completa o trio para lutar contra os anjos que perseguem Claire e passa a desempenhar tarefas importantes na temporada a partir deste episódio.
Voltando aos anjos, é interessante pensar na versatilidade com que eles aparecem nas histórias desde Blink. De vez em quando, suas participações acabam revelando um truque ou habilidade dos vilões que o público desconhecia. O que, à primeira vista, pode parecer um exagero ou até furos de roteiro faz mais sentido quando a gente pensa na natureza dos anjos. Eles são constantemente apresentados como seres quânticos, e todos sabemos que, para quem é leigo em física (a grande maioria de nós, incluindo a pessoa que escreve este texto), a palavra quântico tem um significado claro: algo com propriedades difíceis demais pra você sequer tentar entender. Ou seja, se o roteiro diz que um anjo lamentador pode fazer tal coisa, é porque ele pode, não dá pra entender muito, então só nos resta aceitar e curtir a história.
Mas, brincadeiras à parte, nem tudo é tão solto sobre os anjos, e esse episódio se desenrola a partir de várias informações que já sabíamos a respeito dessas criaturas. A principal delas é aquela de que a imagem de um anjo pode se tornar um anjo, que aprendemos lá na quinta temporada, com o 11º Doutor, Amy e River. Aliás, o drama de Claire remete bastante ao que acontece com a Amy naquela história.
Ainda assim, na continuidade da história dos anjos lamentadores, entre informações novas e antigas, não custa perguntar: como ninguém sobrevive duas vezes ao ataque dos anjos se era exatamente isso que as estátuas faziam no hotel em The Angels Take Manhattan? O próprio Rory foi enviado no tempo várias vezes e sobreviveu (só pra variar). Fica aí o questionamento.
Longe do planeta Terra, a saga de Bel e de Vinder continua e se encaixa ainda mais na luta da Doutora contra Swarm, Azure e o Fluxo. Vale destacar a cena de Azure enganando as pessoas para fazê-las entrar no passageiro. A forma como o discurso é construído lembra muito cenas da vida real, quando certos grupos e políticos se aproveitam do desespero do povo para propor falsas soluções que são, na verdade, armadilhas (soa familiar?).
O que se pode concluir do episódio como um todo é que, Village of the Angels é, sem dúvidas, um ponto alto na era Chibnall. Começando e terminando com grandes emoções e deixando o público ansioso para ver como a história continua, é um meio de temporada que cumpre a função de empolgar quem acompanhou a saga até ali.
Jornalista apaixonada por histórias e personagens fictícios, principalmente se eles viajarem pelo espaço a bordo de uma cabine azul.