REVIEW: 11×01 – The Woman Who Fell To Earth

Já estava mais do que na hora de Doctor Who se reinventar.

Afinal de contas Doctor Who não só trata de viagens no tempo e espaço, mas também se trata de reinvenção. De tempos em tempos a série passa por mudanças. Algumas significativas, outras nem tanto. Em 1966 a série passou por uma das suas mais importantes mudanças que ditou os parâmetros necessários para a sua longevidade. Ao introduzir de forma inteligente o conceito de regeneração, mesmo que na época não tenha sido abordado em toda a sua totalidade, foi permitido a troca de atores do papel principal e assim começou a trilhar o caminho para ser a mais longa série de ficção científica da história.

Por 54 anos tivemos os mais diversos tipos de Doutores, de mais velhos a mais jovens, com as mais diversas personalidades. Porém, sempre homens interpretando o papel principal. Até hoje… A revelação de Jodie Whittaker como a primeira mulher a interpretar o papel principal da série foi talvez a segunda mais impactante notícia da série. Na Era Moffat fomos pouco a pouco sendo apresentados a essa possibilidade que começou com o Mestre se regenerando na Missy, que foi bem aceito pelo fandom. Entretanto, usar desse artifício no papel principal ainda seria algo mais marcante ainda.

É sob essa atmosfera que ‘The Woman Who Fell To Earth’ fez a sua estréia. Não era apenas um episódio que marcava uma nova era de showrunner, era um episódio histórico pois estávamos diante da primeira encarnação feminina, a Doutora. Havia muita antecipação por trás desse episódio e a espera foi longa, tínhamos anseio por algo épico.

Jodie nos mostrou já nos primeiros minutos de tela que podia segurar a barra que é gostar de interpretar esse personagem tão complexo. Afinal de contas, esse alienígena que conhecemos tem pra lá de 2000 anos de idade e muita bagagem, muitas perdas, muitas cicatrizes. Que esse ar bobalhão que muitas vezes vem com ele, é apenas um subterfúgio para poder esconder tantas marcas. E como já estamos acostumados com episódios de regeneração, há todo um processo de se acostumar com o novo corpo, com a nova personalidade até que ele se encontre novamente consigo mesmo. E a Doutora de Jodie conseguiu executar todas essas nuances de uma forma incrível e divertida que nos fez ver que a nossa série estava ali, que nosso protagonista estava ali, que o gênero era uma questão irrelevante nesse sentido.

Estar em uma forma masculina ou feminina não importa, a nossa série continua viva independente disso e de forma maravilhosamente ótima. Jodie foi espetacular em seu primeiro episódio. Me lembrou demais o meu episódio favorito, que por coincidência também é um episódio de mudança de showrunner e Doutor, “The Eleventh Hour”.

E não foi só uma nova interprete para o Doutor que ganhamos nesse episódio, mas todo um novo grupo de companions, ou como o próprio Chibnall prefere chamar, de amigos. Yasmin, Ryan e Graham são introduzidos na história, e toda a união deles se faz de forma orgânica. Apesar de já se conhecerem previamente, o grupo precisava se estabelecer de alguma forma como parceiros de aventura da Doutora, e eles foram instigados a isso e cada um da sua forma foi se integrando e se interessando por essa aventura. É muito cedo ainda para conhecermos todas as camadas de cada um deles, e esperamos que isso seja bem trabalhado ao longo dos 10 episódios dessa temporada, afinal ainda não sabemos se continuarão na temporada seguinte.

Quanto ao enredo, havia também uma certa preocupação por parte dos fãs da série. Afinal de contas, Chris Chibnall não possui nenhum episódio marcante na sua passagem como roteirista de Doctor Who. Os episódios são mais lentos e menos mindblowing quando comparados a diversos outros, ainda mais com os escritos por Steven Moffat, showrunner da 5ª até a 10ª temporada e responsáveis por grandiosos episódios de Doctor Who, por trazer plots mais complexos nas temporadas que esteve a frente (mesmo com alguns muitos furos de roteiro). A grande verdade é que apesar de tudo Moffat havia elevado o nível da série, melhorado em diversos aspectos do universo construído por Russel T. Davies após o retorno da série, e Chibnall tem por responsabilidade manter ou melhorar esse nível e deixar a sua marca positiva pra série, como outros fizeram.

Por todo o contexto envolvido, o episódio consegue ser marcante, mesmo que o vilão por trás do episódio seja talvez um pouco esquecível. Não havia plano de dominação da Terra em jogo, mas uma caçada a um humano aleatório que valeria para ele a liderança de seu povo. Porém, Tsim-Sha usou de meios escusos para descobrir tal alvo de forma rápida e assim vencer o desafio. O que ele não contava era encontrar a Doutora em seu caminho. Com foco no desenvolvimento da Doutora e de seu grupo de amigos, o episódio foi completamente satisfatório.

Esperamos que a temporada nos traga história divertidas e marcantes ao longo dela, nenhum mistério ou trama principal foi apresentado nesse primeiro episódio. Não sabemos se Chibnall irá adotar tal estratégia ou se veremos uma temporada desenvolvida com episódios independentes com um problema mais grave no fim da temporada. É uma nova era, muitas coisas estão obscuras para nós. A única certeza é de que Jodie tem sim competência para interpretar a agora conhecida como Doutora, e que nos resta apenas confiar no showrunner que nos apresente uma temporada digna da sua protagonista.

Em tempo:

  • Grace foi uma personagem maravilhosamente doce, fiquei completamente arrasado com sua morte prematura.
  • A Doutora teve vários momentos de contemplação nesse episódio e isso foi maravilhoso.
  • A cena em que ela escolhe suas próprias roupas foi demais <3
  • Boladíssimo que não tivemos nem abertura, nem TARDIS, muito menos um trailer do restante da temporada. Se tem uma coisa que Chibnall sabe fazer é manter tudo em segredo e nos deixar na curiosidade.

Sei que já estava mais do que na hora dessa resenha sair, mas tive uma semana complicada e só hoje consegui parar para dar esse presente de Dia das Crianças pra vocês.

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