Review – Face the Raven

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[Shh, spoilers]

Estou escrevendo esta review ainda com lágrimas nos olhos. Mesmo tendo tomado um grande spoiler por decorrência de ter demorado 24 horas para assistir ao episódio, o impacto da despedida de Clara Oswald não foi menor. Clara foi uma companion que existiu por toda a vida do Doctor, sendo responsável por mais momentos importantes na jornada do protagonista do que qualquer outra, e também representa a própria história do programa ao compartilhar do mesmo aniversário (23 de novembro ou hoje, se você está lendo no mesmo dia da publicação do post). É curioso que a comemoração deste ano seja tão triste.

Face the Raven, escrito por Sarah Dollard, traz um quebra-cabeça característico de filme noir, com um mistério de assassinato a ser resolvido através de interrogatórios pela cidade. No tradicional twist típico da série, a cidade aqui é uma rua camuflada no centro de Londres que abriga membros de dezenas de espécies alienígenas que buscam refúgio, governados por Me (Maisie Williams). Rigsy (Joivan Wade), que apareceu anteriormente no ótimo Flatline, também retorna para o episódio, sendo dessa vez acusado de ter matado uma alienígena e, assim, condenado à morte. Uma tatuagem em sua nuca faz uma contagem regressiva, com um fim fatal. Os elementos da narrativa de mistério são apresentados com um ótimo ritmo e, no fim, desenrolados em uma grande virada: tudo foi uma armação de Me, coagida por um partido ainda não indentificado, para transportar o Doctor para outro local. O plano, porém, não sai como o esperado, pois à Clara foi transferida voluntariamente a sentença de morte que era de Rigsy, com a esperança de que o cancelamento desta por Me resolveria toda a situação.

Com a revelação de que isto está fora do controle de Me, dá-se início à despedida que, ao meu ver, é a segunda mais triste da série moderna (Donna Noble, você se esqueceu mas a gente não). O arco da personagem conclui aqui uma tendência que se observava desde o começo da temporada. Com a morte de Danny Pink, Clara estava cada vez mais obcecada em se tornar igual ao Doctor, arriscando a vida a todo momento e adorando a adrenalina decorrente disso. Mesmo em Face the Raven, enquanto se dependura pela porta da TARDIS, ela grita entusiasticamente como quem pula de bungee jump na Nova Zelândia. Clara se sentia imortal. Sua morte, no fim das contas, não se dá por um sacrifício – ela tinha certeza que seu plano daria certo – mas de qualquer forma com uma aceitação e valentia perante o inevitável. Grande parte desta abordagem ocorre porque ela não quer ver seu melhor amigo sofrer mais do que o necessário.

Em seus últimos momentos, ela faz o possível para impedir a fúria de um Doctor em luto e, dessa forma, fazer com que ele não se esqueça da própria promessa de ser alguém que cura as pessoas. Assim como em The Day of the Doctor, Clara serve como uma âncora para o sofrimento dos pequenos indivíduos, como ela mesmo coloca próxima de seu fim: “Seu reino de terror terminaria com o choro da primeira criança”. O fim chega a ser chocante. Com os braços abertos, pose típica da regeneração de um Time Lord, Clara é atravessada pelo corvo e sua dor é mostrada em slow motion. Somos forçados a olhar de frente o que o próprio Doctor vê apenas pelas costas. O teor gráfico da morte chegou, inclusive, a causar certa controvérsia no Reino Unido dado o horário de exibição.

Capaldi, Coleman e Williams estão no ápice de suas performances. A terceira aparição de Me traz a personagem mais uma vez modificada, carregando o peso da responsabilidade por toda uma população, e o fardo da vida eterna é transmitido corporalmente por Williams com muita competência. No clímax da trama, os olhos pesados e vermelhos de Capaldi dão ao momento uma tristeza potencializada e Coleman permanece à altura na canção do cisne de sua personagem. A música tema de Clara, composta por Murray Gold, é o terceiro elemento que imortaliza a sequência como uma das mais inesquecíveis da série.

Face the Raven se liga diretamente à última história da temporada, dividida em dois episódios. Será muito interessante ver como o Doctor lida com o que acabou de acontecer e se cumprirá a sua promessa de não exercer vingança. Quem será responsável pela armadilha que vitimou sua melhor amiga e o levou para um destino desconhecido. Seriam os Time Lords? Gallifrey finalmente será encontrada? Saberemos semana que vem, quando finalmente pararmos de chorar.

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