Review: The Rings of Akhaten

Por Arlane Gonçalves

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Que episódio lindo!

Logo em seu primeiro minuto, The Rings of Akhaten mostrou que veio para fazer emocionar. Quem não se rendeu às lágrimas nem mesmo no final, pelo menos se arrepiou com a lindíssima trilha sonora, que foi sem dúvida uma das mais belas de DW.

O episódio começou contando a história da folha seca do livro de Clara, e não podíamos ter sido surpreendidos de uma forma melhor. A folha carregava uma história de amor, dias felizes que foram vividos, e dias felizes que não foram vividos. Uma história de conto de fadas que seja, mas linda e emocionante em toda a sua essência… e muito importante por ter gerado Clara, a mulher impossível.

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Tenho que ressaltar que notei uma certa “velhice” no Doctor. Não sei se foi só coisa dos meus olhos ou se a maquiagem foi proposital, mas nas cenas em que ele observa a família de Clara, ele parece bem mais velho. Ele parece estar mais cansado também. Suas roupas estão mais escuras e suas feições não tão alegres. No momento em que ele insiste para Clara pagar a “moto espacial” com o anel, por exemplo, deu a impressão de que ele foi um tantinho cruel. Claro, abrir mão da chave supersônica é impensável, mas aquele olhar dirigido à nova companion na hora do aperto não foi justo. Não sei. Pensei que ele daria um jeito.

Isso pode ser um preparação para o final de Matt no papel do Doctor. Vamos combinar: o relógio já está marcando o tempo dele em contagem regressiva. E a impressão que eu tenho é que ele entrou no mesmo ciclo reflexivo que Tennant, que também estava com um semblante mais pesado no final de sua jornada.

Mas, falando da parte boa, foi realmente muito lindo ver a história dos pais de Clara. Óbvio, tudo estava carregado de muitas emoções, cenas de uma família utópica feliz e completa, responsável por fazer dela a moça íntegra que é hoje. Tal integridade, aliás, é elemento imprescindível no currículo de uma companion.

Como já foi dito diversas vezes na série, o Time Lord precisa de ter alguém do lado para freá-lo de vez em sempre, e Clara já chegou cumprindo sua função muito bem. É só observar a postura de mandona dela quando ela achou que o Doctor abandonaria a jovem The Queen of Years. “We don’t walk away”: ela agora sabe tudo o que precisa sobre seu mais novo amigo alien.

Interessante também é o uso da denominação “mais importante do mundo”, algo muito parecido com o que já vimos com Amy. Parece que Moffat gosta de destacar com toneladas de ênfase a importância de suas companions, e agora, a  folha que “causou Clara”, é denominada a mais importante do mundo.

Também vi um pouquinho de padrão (olha eu querendo ser educada) quanto ao livro de Oswin. Pond tinha um livro de infância, que era cheio de representações de figuras romanas, e tal livro teve um tremendo papel no desenvolvimento da trama da época (com direito a Rory virando centurião de plástico assassino…). Podemos esperar então, com quase total certeza, que o livro de 100 lugares para ver terá seus quinze minutos de fama logo logo.

Sobre o nome do episódio, “The Rings of Akhaten”, tem algo bastante curioso: Akh-en-aten, sim, o faraó Akhenaten, ou Amenhotep, foi o faraó do século 14 a.C., e marido de dona rainha Nefertiti (Nefi para os íntimos), que já deu as caras no Dinosaurs on a Spaceship (onde queria por tudo trair seu marido, né). Se você forçar a massa cerebral um tantinho, vai se lembrar das aulas de história do Egito onde a professora contou que Akhenaton instituiu a religião monoteísta entre os egípcios, numa tentativa de retirar o poder político das mãos dos sacerdotes. Ele decidiu que o deus Aton era a única divindade que deveria ser cultuada, sendo o próprio faraó o único representante e mediador dessa divindade. Aton era algo como o “disco do sol”, se não me engano (e minha memória de 10 anos atrás não falha).

O roteiro foi muito bem elaborado. Daqui podemos ser levados ao Dinosaurs on a Spaceship, e ainda podemos dizer que a aparência e histórico do “old god” ou “Grandfather” se parecem um pouco com Aton. Nessa mitologia, quero destacar a fala do Doctor sobre a crença do povo (ou povos) no deus deles. Para mim, uma das falas mais inteligentes de DW:

Clara: What is it?

Doctor: The Pyramid of the Rings of Akhaten. It’s a holy site for the Sun-singers of Akhet.

Clara: The who of what?

Doctor: Seven worlds orbiting the same star. All of them sharing a belief that life in the universe originated here. On that planet.

Clara: All life? 

Doctor: In the universe.

Clara: Did it? 

Doctor: Well. It’s what they believe. It’s a nice story.

E nessa de falas inteligentes, tivemos um monólogo esplêndido de Matt Smith. Foi tão… puro. A cena ficou tão perfeita que as lágrimas foram inevitáveis, e assim ganhamos um dos momentos mais sinceros e solitários do Doctor. No desabafo houve menção do Last Great Time War e da destruição dos Time Lords, de ele ver o começo do universo (Castrovalva), de ele viver para ver o tempo acabar (Utopia, The Big Bang), e de estar numa dimensão onde as leis da física eram comandadas por um “madman” (The Celestial Toymaker, The Mind Robber, The Three Doctors). Como se já não tivéssemos adorado a overdose de mitologia da série clássica e atual, ele ainda cita que tem conhecimento que nunca deve ser dito, lembrando-nos do The Wedding of River Song.

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Fiquei assustada que depois de TUDO ISSO o deus-devorador-de-almas ainda tenha ficado com fome. Jurei que depois de se alimentar das memórias do Doctor ele iria explodir e pronto. Mas não. Clara teve que ir lá e oferecer seu passado e seu futuro, e só assim, depois de se deparar com o infinito, é que ele se saciou e desistiu de destruir aqueles que o adoravam.

Já disse que foi lindo?

Ver Clara oferecendo o que havia de mais importante para ela — mais uma vez — só fez o conceito da companion subir muitíssimo por aqui. Como diz o Doctor:

She’s just a girl.
How can she be?
She can’t be.
She is.
She can’t be!
She’s not possible.

 

Outra coisa que não podemos deixar passar em branco foi a menção da neta do Doctor, a preciosa Susan Foreman. Para quem não sabe, Susan também, claro, era Time Lord, e viajou com o avô durante a primeira encarnação dele. Ela ainda se reencontrou com ele em sua quinta e oitava encarnações. O nome verdadeiro dela, lá em Gallifrey, era Arkytior.

No mundo estranho dos Sun-singers of Akhet, que o Doctor já havia visitado com Susan, criaturas estranhas é o que não falta. Amei a cena de Clara se assustando com o “latido” da doce Dor’een (que aceita carícias de desconhecidos sem nenhuma cerimônia), vi a fruta exótica e me lembrei de True Blood, e, de relance, o climão feira deu umas aparência de The Beast Below, que é quando Amy viajou pela primeira vez com o Doctor e conheceu um mundo extraterrestre.

Para terminar, fiquei encucada com a visível reprovação de Clara à revelação de que ela lembra o Doctor de alguém que ele conhecia, alguém que morreu. A companion não gostou nada de ser comparada, nem de se imaginar ocupando o lugar de outra pessoa apenas por ser parecida com quem deixou saudades. Outra vez, temos uma mostra do caráter impetuoso de Oswin. Com isso, foi maravilhosa a cara do Doctor quando ela disse categoricamente “Whoever she was, I’m not her“, sendo que nem ele sabe a resposta para tal mistério.

No mais, me desculpem, mas a proporção que este texto tomou foi devido à minha empolgação com o episódio. The Rings of Akhaten foi um capítulo completo. Me arrebatou do começo ao fim. Em grande parte, claro, por causa da trilha sonora e por causa da voz e graciosidade de Merry GejelhThe Queen of Years, interpretada pela atriz Emilia Jones, de apenas 11 anos. Dito isto, não faz mal nenhum ouvi-la cantar de novo fazendo fundo para o monólogo do Eleventh:

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=8PR8DFgtWBA&w=460&h=259]

 

Observações:

# Doctor Who faz referência ao O Guia do Mochileiro das Galáxias! A espécie Hooloovoo existe lá na série de  Douglas Adams.

# Doctor Who também referencia Indiana Jones! Na cena do Doctor segurando a porta com a supersônica, quando ele entra e pega sua chave antes que a porta se feche, temos uma imitação de um movimento bem característico do mister Jones.

# The Rings of Akhaten foi a estreia de Neil Cross roteirizando DW, e o cara não economizou nada em mitologia. Seu próximo episódio será Hide (7×10).

# Engraçado que em Rings of Akhaten tudo se resolve na cantoria, incluindo a abrição de portas.

# Falando em portas, Clara tentou abrir a Tardis sem chave e quando não conseguiu, “sentiu” que a caixa azul não gosta dela. O capitão Jack e Charlotte Pollard (companion do oitavo Doctor) também tiveram esse probleminha…

# Clara não gosta de história. E o que ela vai fazer quando descobrir que “esteve” na era vitoriana?

# “Oh, my stars!“: novo bordão whovian.

# Saudade que não acaba: o Doctor usou novamente os óculos de leitura de Amy.

# E como não pode faltar, o GIF que ilustra um pouco o discurso do Eleventh:

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