Revisitando a despedida dos Pond

Por Arlane Gonçalves
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Aproveitando a espera pela chegada do Especial de 50 Anos, vou fazer um texto para desabafar sobre a primeira parte da 7ª temporada, de Asylum of the Daleks a The Angels Take Manhattan. Logo o leitor vai entender porquê chamo esta review de desabafo, mas já vou avisando que serei completamente sincera. Não gostei da 7ª temporada.

Para mim, os Pond foram os companions mais importantes da série atual, ou seja, meus favoritos. Não sei se é pelo contraste Russel T. Davies versus Moffat, mas o fato é que Amy e Rory parecem mais “reais” para mim. Além de não terem personalidades caricatas, o casal fugiu (por muito pouco) do estereótipo da paixão pelo Doctor, sina que ainda só não tinha atingido Donna.

Amy e Rory eram uma dupla que, apesar de terem suas biografias totalmente conectadas com o Doctor, tinham ainda história e sentimentos  independentes dele. Prova disso, é que antes que fosse tarde, eles “se aposentaram” da vida de aventuras (mais ou menos à força) e foram viver como um pacato casal inglês. Depois, como não poderia deixar de ser, o papai Williams convenceu os pombinhos a voltarem para a Tardis, afinal toda aquela pacatisse nem passava perto das maravilhas que ele poderiam viver lá.

A gente sabe que isso não passa de lorota, afinal, ir para a Tardis é ao mesmo tempo libertador como selador de destino — o que eles aprenderam sempre da pior maneira possível. Mas o ponto aqui é que eles foram e voltaram — porque quiseram. Eles eram amigos do Doctor. Não havia aquele elo de dependência infinita, eles tinham uma vida fora dali.

E falando nesta vida, tenho que dar uma pausa para comentar sobre o tal do divórcio deles. Nada mais sem lógica, claro. Amy e Rory separados? Os caras foram unidos pela própria filha, enfrentaram o mundo e o abismo um pelo outro, e quando finalmente encontram paz, não se comunicaram direito e se divorciam por “tecnicalidades”. É, pelo menos engraçado ficou. O negócio é que me parece que a reconciliação deles serviu só para dizer que Amy amava Rory tanto quanto Rory amava Amy… e isso, meus caros, não acho que seja verdade nunca.

Sem querer entrar em discussões aqui, mas o cara não só esperou 2.000 anos pela ruiva, como esperou também alguns anos entre sua infância e adolescência até que ela o notasse como tal. Precisou da filha deles nascer, viajar no tempo e jogar a-que-la indireta pra Amy perceber que o rapaz era caidinho por ela. Isso sem contar que quando o Doctor chegou, a moça ficou toda assanhada. Tascou o beijo no Timelord e ainda arranjou um jeito de criar aquele climão entre ele e Rory. Ou seja, ela deu trabalho pra caramba.

E Rory passou por tudo isso com seu amor intacto. Nem sequer pestanejou quando viu que sua amada ficaria “sozinha” dentro da Pandora. Mesmo quando ela passava mensagens ambíguas para ele (confundindo o pobrezinho em relação aos sentimentos dela pelo Doctor), ele fazia um biquinho daqui, uma birrinha dali, e logo perdoava tudo. Simplesmente um amor épico.

Outra prova, e esta a maior de todas, de que os Pond tinham uma história independente da do Doctor, foi o fato de Amy deixar o “genro” para trás e ir encontrar seu marido através do weeping angel. Interessante que naquele momento o próprio Doctor ainda tentou convencê-la a ficar, como se  de todo ainda existisse essa possibilidade. Pois bem, ela provou que não, não existia outra vida para ela se não aquela com Rory.

Por outro lado, a vida deles se entrelaçou imensamente com a do Timelord. O processo da gravidez de River foi, provavelmente, o marco inicial da interferência do Doctor na vida deles. Uma interferência, diga-se de passagem, tanto como consequência por eles serem companions, quanto pela forma como o Senhor do Tempo resolveu (ou deixou de resolver) o caso (mesmo depois de descobrir que River Song era Melody Pond e sair saltitando, ele nunca recuperou a nenenzinha).

Na cena em que o Doctor desmancha o clone de Amy com a screwdriver, ele quase desmanchou meu coração também. Amy estava sequestrada, tendo seu bebê longe de tudo o que conhecia, e em mãos inimigas onde não havia nada que ela pudesse fazer. Vocês conseguem imaginar a sensação disso tudo para ela e Rory?

E como se não fosse suficiente, ainda assim eles perderam a filha e nunca mais a recuperaram. Não puderam vê-la crescer. Quer dizer, como crianças crescendo juntos foi uma coisa, mas vê-la crescer como pais, ouvi-la dizer papai e mamãe pela primeira vez, eles não viram. Vocês conseguem imaginar a sensação disso para Amy e Rory?

Vejo isso como um sofrimento maior do que o da família de Martha Jones, quando escravizada pelo Master na 3ª temporada. Lá eles ainda estavam juntos e no final tudo foi revertido de forma que eles continuaram juntos e tiveram a oportunidade de viver a vida que queriam viver. Rory, Amy e River não tiveram isso. Tiveram muitos encontros e desencontros, ficaram juntos por um tempo, se embaraçaram em milhões de linhas temporais, mas, sempre, sempre, acabaram separados. E sem a chance de um recomeço.

O final do casal, com Amy voltando no tempo para ficar com Rory, selou esta separação invencível entre eles. O casal Pond ficou separado da filha, de seu tempo, e do resto de família que eles tinham, o papai Williams. Dizer que Moff é cruel é bem redundante. Ele claramente fez todo o esforço para bater o recorde de tristeza de finais de companions (observe que os de T. Davies passaram por vários obstáculos mas terminaram todos com seus entes queridos).

Para não dizer que é um monstro total, ele liberou, FORA de Angels Take Manhattan, um vídeo mostrando o filho adotivo dos Pond indo visitar o avô com uma carta explicando as desventuras que os separaram. Entretanto, isto deveria, penso eu, ter sido exibido no curso normal da série. Aliviaria, pelo menos um tantinho, o gosto amargo deste final. Mas quem somos nós. Moffat não cansa de falar que adora pisotear nossos corações.

Apesar disso, e dos momentos lindos que também existiram entre os três em Manhattan, devo dizer que a sétima temporada para os Pond deveria ter sido mais épica. Como citei no começo, eles são os companions mais impontantes, e mereciam mais do que o final mais triste de todos para encerrar suas histórias.

De Asylum of the Daleks até The Angels Take Manhattan, vimos episódios bem aquém do que o trio, junto com o direcionamento de Moff, nos tinha apresentado. Asylum of the Daleks foi um bom episódio com sua grandiosidade de efeitos e cores, com a aparição surpresa de Clara, e com a reconciliação de Amy e Rory. Ele começou bem a temporada. Dinosaurs on a Spaceship também se saiu bem, especialmente pela dinâmica entre o Doctor e o vilão Solomon, que teve um gostinho do lado não tão misericordioso do Senhor do Tempo.

Em A Town Called Mercy, porém, a qualidade caiu bastante. A premissa do episódio foi boa e o cenário foi um dos mais interessantes da série. Mas muito tempo foi perdido em longas conversas dispensáveis e em excessos de reviravolta. Seria melhor se trocassem tudo isso por mais ação. The Power of Three foi o pior de todos, mesmo com a quebra cômica resultante do Doctor dando uma de dono de casa. A espera dos personagens pela hora em que os cubos fariam algo, equivaleu à nossa espera pela hora em que algo aconteceria ali. E, no final, a resolução foi um belo de um anticlímax, sem aqueles embates memoráveis entre os mocinhos bons e maus.

O derradeiro The Angels Take Manhattan foi, sim, um bom episódio. Mas, para a proporção de sua importância, ele deveria ter sido maravilhoso, do nível de Blink pra lá. Independente do grau de tristeza que ele conseguiu transmitir em seus últimos minutos, o resto dele tinha que ter sido igualmente “insuportável” emocionalmente.

Exemplos do que estou falando são episódios como Last of the Time LordsJourney’s End. Eles foram seasons finales e finais de tramas tão “insuportáveis” que, enquanto eu assistia, não tive tempo de respirar nem muito menos de piscar. Em contrapartida, The Angels Take Manhattan me deu várias pausas, o que novamente eu trocaria sem pensar por mais ação.

Fico pensando que talvez eu seja a única que teve essa impressão. Para mim, a primeira parte da 7ª temporada foi, sem tirar nem por, o pior momento dos Pond com o Doctor. Tanto porque o começo deles teve muito mais frenesi e substância (perdi as contas de quantas vezes revi a 5ª e a 6ª), como porque a expectativa para o fim era muito maior do que a expectativa para o princípio. Mesmo que isoladamente alguns episódios tenham se sobressaído, quando você olha o conjunto todo parece que faltou algo. Faltou uma “cola” entre esses 5 capítulos para uni-los da mesma forma que os dois primeiros anos de Moffat pareciam um.

Eu queria mais. Eu esperava muito mais. Eu desejava mais para os companions mais humanos e amáveis que conheci. Para os companions que mais me fizeram chorar. Para os companions que mais me conquistaram e pelos que mais torci. Para os companions que tiveram uma jornada fantástica e que fizeram do Doctor um homem mais fantástico ainda. Eu queria mais. Mas só fiquei com a lembrança do doce começo e do amargo final.

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