Entrevista de Jodie Whittaker para a Marie Claire UK

Jodie Whittaker: ‘Alguém perguntou “você está interpretando Doctor Who como uma garota ou um garoto?”, eu disse: ‘Estou apenas interpretando’.

Levante a mão quem deu um pequeno grito quando uma das atrizes mais amadas da Grã-Bretanha conseguiu o maior emprego na TV? A editora chefe da Marie Claire, Trish Halpin, conheceu Jodie Whittaker para descobrir como ela está lidando com o fato de ser a 13ª Doutora.

Cinco anos atrás, para comemorar o aniversário de 25 anos da Marie Claire, encomendei uma peça chamada Icons on Icons, na qual juntamos mulheres notáveis do mundo da moda, cinema, TV e teatro que eram estrelas em ascensão – a próxima geração de ícones . E uma delas era uma Jodie Whittaker de 31 anos, que na época estava cativando a nação como Beth Latimer na série mais comentada de 2012, Broadchurch.

Agora, ao fazer história por ter conseguido o papel da protagonista em Doctor Who, parece ser extraordinário ter Whittaker aparecendo em nossa capa de aniversário de 30 anos.

“Adorei essa sessão de fotos”, ela relembra com seu amplo sotaque de Yorkshire, quando nos encontramos em Wiltshire, para a sessão de fotos. Apesar do dia se transformar em um dos mais quentes do verão, sua energia é contagiante e ela nunca reclama.

Muita coisa aconteceu desde que Whittaker apareceu pela última vez na Marie Claire. Além da pequena questão de se tornar um dos nomes mais populares da noite para o dia, quando foi anunciada como a 13ª Doutora, ela agora tem uma filha de três anos com o marido, o roteirista e ator Christian Contreras.

Quando chega a hora do almoço, vamos para uma sala de estar legal na mansão, e tenho a chance de descobrir mais…

Trish Halpin: Já tem um ano desde que você foi anunciada como a nova Doutora. Como a vida mudou?

Jodie Whittaker: Eu me mudei para o País de Gales, o que é uma grande mudança depois de trabalhar e morar em Londres por 15 anos. Nunca estive em um emprego por tanto tempo – são nove meses de filmagem, o que é maravilhosamente cansativo. Ainda estamos no meio disso (na época da entrevista), então estou em um turbilhão e ainda me aventurando como a Doutora. Estou neste estágio abençoado onde ainda tenho alguma normalidade; é como estar em uma bolha até a temporada ir ao ar.

TH: Esse papel é um presente para você interpretar…

JW: Eu sinto que me deram esse mundo incrível e me deixaram ser como uma criança em uma loja de brinquedos e sair dela com tudo que queria. Doctor Who não era algo que estava na TV em minha casa quando era criança, então pensei que teria que fazer isso antes do primeiro teste e assistir a todos os episódios. Felizmente, Chris [Chibnall, o produtor] disse: ‘Não quero que você faça isso. Quero que você entre com novos olhos e traga a sua leitura do que faria neste ambiente.’

TH: Isso deve ter tirado a pressão. Você já trabalhou com Chris antes, sendo ele o criador de Broadchurch

JW: Em retrospectiva, Broadchurch foi um divisor de águas porque conheci Chris. Ele não teria necessariamente me associado com a energia certa para essa personagem. Ainda bem que não fui uma idiota! Esse é o conselho que daria a uma jovem atriz; seja uma boa pessoa, se divirta e simplesmente aprecie que todos estejam trabalhando tão duro quanto você. Não há status, então não se dê o status que você não precisa.

TH: Você é a primeira mulher a conseguir o papel em  50 anos de Doctor Who, que, falando sério, é uma grande coisa. Eu amei o vídeo que se tornou viral de uma menininha gritando de alegria quando percebeu que o Doutor seria uma mulher. Como aquilo fez você se sentir?

JW: Eu também amei isso! E sabia que haveria muitas pessoas que ficariam em choque com isso. Mas esse trabalho celebra a mudança mais do que qualquer outro papel – você tem uma regeneração física, e escolher [uma mulher] apoia essa história e não vai contra as regras da série de forma alguma. Estou interpretando um Senhor do Tempo que é essencialmente um alienígena e habita corpos diferentes e este é feminino. A melhor coisa para mim é que, pela primeira vez na minha vida, não estou interpretando uma mulher estereotipada porque, por mais que me aproxime de tudo como atriz, sou rotulada continuamente pela versão feminina das personagens.

TH: Esse é um ponto realmente interessante. Você pode me dar um exemplo?

JW: Quando estava promovendo Broadchurch, notei que os atores eram perguntados: ‘Como é interpretar tal personagem?’, e a pergunta para mim era: ‘Como é interpretar uma mãe?’, mas os personagens masculinos nunca foram rotulados como ‘pai’. Havia sempre uma terminologia que era específica de gênero. Recentemente, alguém me perguntou: ‘Você está interpretando [o Doutor] como uma garota ou um garoto?’, respondi: ‘Estou apenas interpretando’. Esse é o papel mais libertador, porque não há regras.

TH: O que você acha que isso significará para outras atrizes, roteiristas e diretoras?

JW: Estamos começando a perceber que as mulheres não são um gênero – você sabe, ‘é uma filme/série de gênero porque há mulheres nele’. Eu fiz um filme [Adult Life Skills] com uma de minhas melhores amigas, [a diretora indicada ao BAFTA], Rachel Tunnard, e muito dos papéis principais eram mulheres. Foi descrito como um ‘filme feminino’, mas ficamos tipo ‘Uau! OK, bem, para nós é um filme.’

TH: Ouvi que Doctor Who ter mais narrativas inspiradas em mulheres desta vez. É verdade que o ônibus de Rosa Parks fará uma aparição?

JW: Tudo isso é secreto. Creio que você  não deveria saber sobre isso!

TH: Você nunca se esquivou de papéis emocionalmente complexos – no ano passado, interpretou uma mulher casada com um boxeador com danos cerebrais em Journeyman, contracenando com Paddy Considine. Como sua abordagem ao Senhor do Tempo difere?

JW: Talvez seja a razão de os fãs [de Doctor Who] ficarem nervosos – eles só me viram ser séria ou ter uma energia carregada e isso não é necessariamente o Doutor sombrio. Quando você interpreta pessoas problemáticas, isso o empurra para além de seus limites emocionais e há um esgotamento porque você ficou com esse peso. Mas nesse papel, estou continuamente correndo e pulando e brincando, então no final de semana sou como uma maníaca. Eu fico tipo: ‘Fala sério, estou acordada!’ Provavelmente sou um pé no saco. Há uma estranha euforia e é por isso que tem sido muito divertido. Eu nunca ri tanto na minha vida, todos os dias. Adoro os companions [Bradley Walsh, Mandip Gill e Tosin Cole]. Sou abençoada por conhecer três pessoas que agora considero como membros da família e estão nessa jornada comigo.

TH: Ser um modelo para os jovens é uma das maiores responsabilidades deste trabalho. Como você está se sentindo sobre isso?

JW: Espero que, como eu poderia ser sua vizinha – não sou fisicamente alguém que possa fazer coisas extraordinárias -, não pareço uma heroína inatingível para as crianças. Esta é alguém que ama a ciência, que é esperançosa e que não tem uma aparência super diferente.

TH: E isso está refletido na roupa.

JW: Não há a sensação de que “é uma roupa de menina” ou “é uma roupa de menino”, são apenas roupas. Eu queria que a roupa – o suspensório, a camiseta, as calças e botas – servissem para dar a energia e a personalidade à minha Doutora. Eu também estava tipo ‘corte meu cabelo, vamos fazer algo louco’, mas Chris queria o cabelo que fiz o teste. Tudo o que conseguia pensar era que não seria muito prático e estaria no meu rosto o tempo todo.

TH: Quem são seus próprios modelos? Quem te inspira mais?

JW: Eu acho Michelle Obama incrivelmente inspiradora. Eu sou como uma esponja para qualquer coisa que ela faça. Ela é articulada, emponderadora e completamente acessível. E minha mãe. Ela é uma daquelas mulheres que você só pode sonhar em ser; uma das pessoas mais altruístas que já conheci. Eu não sou! Falo muito sobre isso: ‘Por que não sou mais como você?’ E também tenho muitas amigas de infância. A inspiração não vem apenas de pessoas que receberam uma plataforma e uma voz, mas das mulheres que estão ao seu redor sempre.

TH: Há algum ator/atriz que você  particularmente admire?

JW: Eu sempre admirei Laura Linney; sua carreira é extraordinária. Todos os papéis que desempenha, acredito nela. Também me sinto entusiasmada com a geração de atrizes que estão liderando o caminho e assumindo essa irmandade, como Rebecca Hall, Ruth Negga e minha companion Mandip Gill. Nós temos vozes e não precisamos fingir que não, o que é realmente emocionante. Acho que todo o elenco de Derry Girls é um divisor de águas para a comédia. Ah, e Meryl Streep – você não pode responder a essa pergunta sem dizer isso!

TH: Finalmente, onde você estará quando o seu primeiro episódio for ao ar?

JW: Em algum lugar distante, para não assistir no mesmo fuso horário. Vou desligar meu telefone e esperar pelo melhor!

Doctor Who volta à BBC One em 7 de Outubro.

Fonte: Marie Claire UK

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