REVIEW: The Giggle

Chegamos ao último episódio especial em comemoração aos 60 anos de Doctor Who. Nele, temos a conclusão das aventuras iniciadas em The Star Beast.

Em The Giggle (Risadinha), a risada de uma marionete poderosa leva a raça humana à insanidade. Quando descobre quem está por trás de tudo, o Doutor se depara com uma batalha impossível de vencer.

Se você não assistiu o episódio, aconselho assistir e voltar depois, pois essa não é uma review livre de spoilers e alguns pontos do enredo serão discutidos.

Como em Wild Blue Yonder, The Giggle começa exatamente onde nos despedimos da dupla Doutor-Donna no último episódio. Ao materializarem em Londres, os dois logo percebem que tem alguma coisa muito errada com as pessoas: estão todas completamente foras de sí. Tem cachorro latindo, criança chorando, vagabundo vazando. Só falta o BOPE chegar para piorar tudo.

Dando um pouco de contexto aos acontecimentos, vamos ao passado onde a primeira transmissão televisiva estava para acontecer. Aqui temos uma das minhas coisas favoritas de Doctor Who: a série aproveita de eventos reais para inserir a nossos personagens e, assim, criar um enredo envolvendo os acontecimentos e suas possíveis repercussões. Nesse momento, vemos um vendedor de brinquedos suspeito que vendo a marionete que, em momentos, será usada para a transmissão.

No presente, Doutor e Donna são levados à UNIT onde as investigações do surto, que é global, estão sendo feitas. Tenho pra mim que, para conceber o conceito de The Giggle, Russell T Davies passou dois dias inteiros interagindo com as pessoas no Twitter (ou X, se preferir): as pessoas do mundo todo julgam estar certas e não aceitam opiniões ou fatos, o que muitas vezes tem como consequência o caos absoluto com altos níveis de violência. Após alguns experimentos para entender causa e efeito, a dupla principal descobre que as pessoas começaram delirar quando um novo satélite entrou em órbita, deixando todos, do mundo todo sem exceção, online. Rastreando a origem, somos levados de volta à primeira transmissão feita nos anos 1920s. De cara, a loja de brinquedos, que por acaso, é vizinha do inventor da televisão chama mais atenção do Doutor e temos a rota atualizada. Dentro dela, somos apresentados a quem vem a ser o Toymaker, interpretado por Neil Patrick Harris. Vale mencionar que essa não é a primeira aparição do vilão em Doctor Who: na televisão, tivemos a sua introdução ainda com a primeira encarnação do Doutor no arco The Celestial Toymaker de 1966, além de outras aparições em áudio, quadrinhos e livros. Mas, para quem chegou agora, importante é saber que o Toymaker é uma entidade lúdica que manipula a realidade do universo ao seu redor como se fosse um jogo.

Depois de perder num jogo de cartas, voltamos ao presente onde, tendo a UNIT como cenário, ocorre a mais nova cena icônica da série: uma performance teatral, musical e coreografada do Toymaker ao som de Spice Girls que beira o absurdo, mas que funciona muito bem nas premissas do personagem e seus propósitos.

Como o Toymaker respeita as regras do jogo mais do que qualquer lei da física ou dos homens, e considerando que o primeiro impasse entre ele e o Doutor aconteceu com o primeiro Doutor, e o segundo combate com o Décimo Quarto, nada mais justo do que a melhor de três ser com a próxima encarnação: e nada melhor para resolver isso do que um tiro a laser bem no meio do Doutor para forçar a regeneração. O que o vilão não contava (e, na verdade, nem nós fãs da série cotávamos) é que nesse momento aconteceria a primeira bi-regeneração, onde uma encarnação é dividida podendo coexistir com a outra. Tipo mitose.

Trabalhando em dupla com o mais novo Décimo Quinto Doutor, o já querido Ncuti Gatwa, os Doutores conseguem vencer o Toymaker e bani-lo dessa realidade, não sem antes apelar para muitas acrobacias.

Mais uma vez, como eu disse no review de Wild Blue Yonder, se eu ganhasse 1 centavo para cada aventura de Doctor Who sob o comando do RTD que conta com um plot que lembre outro já feito por ele mesmo, eu teria dois centavos com The Giggle: dessa vez temos um novo Doutor sendo apresentado e tendo sua primeira experiência na nova encarnação usando roupas mais íntimas, enquanto enfrenta o vilão do episódio tendo a cidade de fundo, o que lembra bastante a apresentação do Décimo Doutor em The Christmas Invasion (2005). Talvez seja um paralelo proposital para a finalização (e recomeço) nessa nova era de Doctor Who.

Com dois Doutores existindo ao mesmo tempo sem quebrar a fibras da realidade, temos finalmente a oportunidade de dinâmicas que anteriormente seriam impossíveis: auto perdão, mesmo que wibly wobly, e a tão esperada aposentadoria do Doutor. Nessa aposentadoria vemos que enquanto o Décimo Quinto Doutor vai viver as aventuras pelo universo, a Décima Quarta encarnação vai poder, por fim, ter a aventura que lhe foi privada há muito tempo: ter uma vida relativamente pacata com a sua grande família.

Nos vemos por aí no tempo e espaço. Até a próxima.

Escrito por: Gustavo França

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